Resumo:
O presente trabalho foi realizado com o objetivo de entender o desenvolvimento do mercado das microcervejarias em Porto Alegre. Apesar de hoje observar-se diversas microcervejarias, bares de cervejas artesanais e eventos que promovem essa cultura por toda cidade, os acontecimentos e agentes responsáveis por conduzir esse mercado até o presente momento não estavam claros. Este trabalho se propôs a identificar estes marcos e atores possibilitando uma análise sobre o desenvolvimento desse mercado através das lentes da CCT. Essa corrente teórica foi escolhida por propiciar uma investigação sobre a formação de mercados enquanto uma construção social, dando ênfase não somente às ações das empresas e sim a todos os atores que contribuíram ativamente para a emergência desse mercado. Esse posicionamento teórico tem ganhado cada vez mais força pois observamos o surgimento de diversos trabalhos que fazem uso da CCT em conjunto com outros instrumentos advindos das teorias sociais, como a legitimação, cooptação, comoditização e teoria ator-rede. Este estudo se beneficiou das propostas de análise de mercado de Martin e Schouten (2014), pois segundo os autores um mercado é um movimento que pode ter sua origem influenciada pelas ações de uma empresa ou pelos consumidores e práticas de consumo. Essa ótica foi escolhida pois desde o início da pesquisa acreditou-se que o mercado em questão era um movimento impulsionado pelos cervejeiros caseiros. A pesquisa mostrou que o mercado das cervejas artesanais na cidade de Porto Alegre tem sua origem em meados da década de 90, período em que ocorreu o surgimento da primeira microcervejaria do Brasil na capital gaúcha e também o aparecimento dos primeiros fornecedores de insumos do país. O início da constituição dos alicerces que sustentaram o crescimento desse mercado tem uma forte influência de grandes empresas, o que foi constatado através de dados obtidos que ilustram seus interesses no potencial do nosso mercado anos antes do início do seu crescimento acentuado. Mas foi apenas quando ocorreu a união dos cervejeiros caseiros que o mercado começou a ser estabelecido devido ao surgimento de entidades como a Acerva Gaúcha e a AGM que suportam as práticas e interesses dessa comunidade. Durante a exposição dos resultados, fica clara a maior quantidade de evidências de um movimento de emergência de mercado direcionado por consumidores e suas comunidades em detrimento a um processo conduzido pelas empresas. Diferente dos estudos que fundamentaram a teoria deste trabalho, conseguiu-se mostrar que mesmo mercados conduzidos por consumidores podem ter grande influência de empresas e que essa dinâmica pode ocorrer de forma pacífica.