Resumo:
Em 1992, manuscritos de Émile Benveniste sobre a linguagem poética foram anunciados e geraram o que hoje se conhece como Dossiê Baudelaire. Esse material foi depositado na Biblioteca Nacional da França em 2004, vindo a público em 2008, via tese de Chloé Laplantine, e em 2011, via editora Lambert-Lucas. O Dossiê Baudelaire, provável estudo de Benveniste para um artigo encomendado por Roland Barthes para a revista Langages, é composto por 367 fólios. Os poucos estudos já realizados concordam que o dossiê apresenta uma pesquisa de Benveniste sobre o discurso de Baudelaire. Indo além dessa constatação, esta tese objetiva verificar como a escrita de Benveniste presente no dossiê esboça um estudo semiológico de uma obra e, portanto, do poético na linguagem. A categoria de análise, inspirada em Fenoglio (2009) e em Nietzsche (2009, 2007, 2004), é denominada de ruminação, pois é pela insistência enunciativa verificada na escrita de Benveniste que serão estabelecidos os fatos enunciativos para análise. O corpus não é constituído pela totalidade dos fólios, mas por aqueles que deixam ver termos e procedimentos ruminados na escrita de Benveniste. Dos 159 fólios selecionados, foram elencadas para análise duas perspectivas de pesquisa: (i) a particularidade e a singularidade do discurso de Baudelaire e (ii) o caráter radicalmente específico da língua poética. Em relação à primeira, dois procedimentos comparecem como os mais ruminados: (a) a escolha das imagens reveladoras e (b) a busca pela estrutura da obra inteira. No que se refere à segunda, dois aspectos parecem tornar e retornar na escrita de Benveniste: (a) a natureza e (b) o funcionamento da língua poética. Anotam-se os seguintes resultados: a particularidade e a singularidade do discurso de Baudelaire devem-se à imagem do espelho, que engendra outras imagens criativas, e às relações entre o tempo, a sonoridade e a invocação, que apontam para a correspondência primordial: o homem e o mundo. A correspondência é, então, o princípio que estrutura o universo poético baudelaireano. Esses resultados colocam em cena o caráter radicalmente específico da língua poética: o material – a palavra-escrita ¬–, a unidade ¬¬– a palavra-ícone – e o princípio de funcionamento – a iconia. Comprova-se, desta forma, que a escrita de Benveniste evidencia um estudo semiológico do poético na linguagem a partir de uma perspectiva linguística que transcende o signo saussuriano e encontra a emoção e a experiência humana.