Resumo:
Esta dissertação de mestrado é um subprojeto de um estudo maior, intitulado “Uma mulher, um feto, e uma má notícia: a entrega de diagnósticos de síndromes e de malformações fetais – em busca de uma melhor compreensão do que está por vir e do que pode ser feito”. (OSTERMANN, 2013). Debruçamo-nos sobre o tema de perguntas no português brasileiro com base no aparato metodológico da Análise da Conversa (SACKS; SCHEGLOFF; JEFFERSON, 1974) e da Linguística Interacional. (OCHS; SCHEGLOFF; THOMPSON, 1996; SELTING; COUPER-KUHLEN, 2001). Tendo em vista que o objetivo desta dissertação é distinguir as ações de pedido de informação e pedido de confirmação nas perguntas polares no português brasileiro, analisamos 891 perguntas polares da fase da anamnese das dezessete primeiras consultas de aconselhamento genético reprodutivo. As consultas ocorreram em um setor que atende mulheres em gestação de médio ou alto risco de um hospital materno infantil do Sistema Único de Saúde (SUS) localizado no sul do Brasil. Os resultados da investigação apontam que, nesse contexto, as ações de pedido de informação e pedido de confirmação se distinguem pelo grau epistêmico do médico em relação à informação solicitada. Evidenciamos que os conhecimentos prévios podem ser provenientes de diferentes fontes, sendo elas: (a) a interação, (b) o conhecimento médico específico, (c) o grupo de medicina fetal do hospital analisado e/ou (d) o prontuário médico da gestante. No que concerne aos recursos interacionais que diferem essas duas ações, identificamos o uso de marcadores discursivos somente na ação de pedido de confirmação. No que tange à análise prosódica, com o intuito de descrever a curva de F0 dessas perguntas polares, a análise aconteceu em duas etapas. Inicialmente, realizamos a análise auditiva das 891 perguntas polares e, em seguida, realizados a análise acústica de 300 dessas perguntas por meio do software PRAAT. Corroborando a descrição da entoação das perguntas apresentada em gramáticas descritivas do português brasileiro (CASTILHO, 2014; PERINI, 2005), evidenciamos que algumas delas apresentam entoação final ascendente. No entanto, nossos dados também revelaram que essas perguntas polares podem apresentar entoação final descendente. Na coleção de perguntas polares analisadas, constatamos que algumas demonstravam uma orientação do médico em relação a tópicos delicados o que, por sua vez, consititui outra análise. Identificamos que, nos assuntos interacionalmente construídos como delicados pelo médico geneticista, o formato do turno com as expressões “chegaste a” e “chegou a”, nas solicitações de informação sobre o uso do ácido fólico e na realização do exame de translucência nucal, atribui menor responsabilização à gestante. Em contrapartida, nas sequências em que o médico solicita informação sobre os hábitos relacionados ao fumo, ao consumo de álcool e ao uso de drogas, há responsabilização das gestantes por meio de fechamentos com avaliação positiva.