Resumo:
O impacto das espécies exóticas invasoras sobre as espécies nativas nas comunidades e nos ecossistemas tem sido amplamente reconhecido como uma causa importante das mudanças na diversidade global. Estas espécies aumentam suas populações podendo afetar a estrutura e a função dos ecossistemas invadidos. Dentre as espécies exóticas de plantas que invadem ambientes florestais no Brasil, Hovenia dulcis Thunb. é freqüente em áreas que sofreram perturbações. Assim, a primeira parte deste trabalho procurou comparar os parâmetros fitossociológicos e avaliar a riqueza, a estrutura e composição de espécies arbóreas em áreas de floresta secundária em regeneração com e sem a invasão por H. dulcis. A espécie exótica estudada apresentou um dos maiores valores de densidade e área basal, demonstrando sua importância nas áreas onde ocorre. No entanto, estas variáveis estruturais e a riqueza não foram alteradas pela presença da espécie exótica. A composição de espécies sofreu influência da presença da espécie invasora quando se controlou o efeito causado por variáveis ambientais não mensuradas como histórico de perturbação, condições bióticas entre outros que influenciam a dinâmica de sucessão florestal. Isto indica que as variações florísticas entre as unidades amostrais são em maior parte determinadas pela diferença nas condições abióticas e no histórico de cada área e, secundariamente, pela presença de H. dulcis. A abundância e distribuição das espécies de plantas são determinadas em parte durante os estágios iniciais de regeneração, quando estão mais vulneráveis ao seu ambiente imediato. Mudanças no requerimento de fatores bióticos nos diferentes estágios de desenvolvimento ontogenético da planta podem manifestar mudança do nicho de regeneração desta. A disponibilidade de luz, a queda e o acúmulo de serrapilheira são fatores que afetam a estrutura e a dinâmica da comunidade de plantas de maneiras diferentes. Assim, a segunda parte deste estudo pretendeu avaliar se as variáveis ambientais no entorno de indivíduos de H. dulcis diferem durante as fases de desenvolvimento ontogenético: juvenil inicial, juvenil tardio e adulto, procurando verificar se existem alterações no nicho de regeneração em relação às variáveis ambientais; estágio ontogenético e deciduidade sazonal de H. dulcis. As análises mostram diferenças entre os estágios ontogenéticos apenas para abertura de copa e cobertura herbácea. A composição de espécies também variou entre os estágios ontogenéticos. A porcentagem de abertura de copa diferiu entre indivíduos adultos em relação aos juvenis apenas no período não-decidual, em função da dominância de H. dulcis compondo o dossel. Assim, observa-se uma mudança no nicho de regeneração em função da abertura de copa. A copa pouco densa de adultos de H. dulcis acentua o efeito da abertura de copa nestes pontos em relação aos indivíduos juvenis. A profundidade da serrapilheira durante o período decidual foi maior no entorno de adultos e juvenis iniciais. A deciduidade e conseqüente aumento da serrapilheira podem favorecer a sobrevivência e o crescimento das espécies mais exigentes à luz como as secundárias iniciais, em decorrência do aumento na quantidade de luz que chega ao sub-bosque, mas pode afetar negativamente plântulas intolerantes à luminosidade. Os compostos alelopáticos produzidos pelos vegetais provêm do metabolismo secundário e podem estar presentes em diferentes órgãos e tecidos da planta e serem liberados no ambiente de diferentes maneiras. A alelopatia tem sido reconhecida como um importante mecanismo ecológico que influencia a dominância vegetal, podendo determinar a estrutura, composição e a dinâmica de comunidades vegetais. H. dulcis apresenta, entre outros, compostos fenólicos em suas folhas que podem causar mudanças durante o processo de germinação de espécies nativas. Assim, a terceira parte deste trabalho testa os potenciais efeitos alelopáticos das folhas de H. dulcis sobre a germinação e crescimento de raiz e parte aérea de plântulas de Casearia sylvestris. Os extratos aquosos de folhas de H. dulcis apresentaram efeito alelopático em sementes e plântulas de C. sylvestris. Os lixiviados em todas as concentrações reduziram a porcentagem de germinação. Da mesma forma, ocorreu um maior efeito inibitório nas raízes do que na parte aérea das plântulas que pode impedir o futuro estabelecimento dos regenerantes, afetando a tomada de recursos vitais à planta. As sementes em contato com os lixiviados apresentaram uma redução na velocidade de germinação. Com isso, as plântulas de C. sylvestris expostas aos compostos aleloquímicos das folhas de H. dulcis tiveram seu desenvolvimento inicial atrasado em função da espécie exótica. Assim, conclui-se que a grande densidade de indivíduos de H. dulcis corrobora com a invasão desta espécie, que altera a composição de espécies na floresta em regeneração. Ainda, H. dulcis altera seu nicho de regeneração e assim influencia o nicho das espécies nativas regenerantes e ainda apresenta efeitos alelopáticos inibitórios sobre a germinação e desenvolvimento de plântulas de C. sylvestris.