Resumo:
Esta dissertação nasce da constatação de que é necessário conjugar a tradição clínica com a investigação empírica para ampliar o entendimento da desorganização aguda vivenciada por pacientes com transtorno de personalidade borderline em tratamento psicoterápico de orientação psicanalítica e estabelecer diretrizes para o seu manejo pelo psicoterapeuta. É uma dissertação de mestrado organizada em dois artigos empíricos. O primeiro, em formato de ensaio, trata da aparente dissociação entre a prática clínica e a pesquisa empírica e discute as possibilidades de uma aproximação entre estes dois campos a partir da conjugação de métodos clínicos e empíricos para a compreensão do processo psicoterápico e das mudanças observadas na psicoterapia psicanalítica. O caso de uma paciente borderline é utilizado para ilustrar como instrumentos empíricos e anotações clínicas feitas pelo psicoterapeuta podem se complementar e oferecer subsídios para a compreensão do processo de mudança em psicoterapia. São feitas considerações sobre o potencial deste tipo de perspectiva contribuir para a diminuição da brecha existente entre pesquisa e prática clínica. O segundo artigo é um estudo empírico que buscou aprofundar e contribuir para o aumento do conhecimento dos aspectos subjacentes às crises borderline e o seu manejo pelo psicoterapeuta de orientação psicanalítica, visto que elas são esperadas, recorrentes, mas alvo de poucos estudos. O caso é de uma paciente borderline em psicoterapia psicanalítica há aproximadamente três anos. A análise se concentrou num período de aproximadamente três meses, perto do final do primeiro ano de tratamento, no qual houve uma desorganização aguda que culminou numa tentativa de suicídio da paciente, seguida por uma internação psiquiátrica e reorganização psíquica após a mesma. A psicoterapia não foi interrompida neste período, que compreendeu 12 sessões. Estas foram analisadas, em profundidade, por meio das anotações clínicas da terapeuta, de uma medida empírica do processo terapêutico, o Psychotherapy Process Q-set (PQS), e de instrumento de avaliação de sintomas. Os achados apontam para a recomendação da não interrupção da psicoterapia na vigência da crise borderline e para a importância da empatia, sensibilidade e flexibilidade dos terapeutas para adaptar suas técnicas às necessidades destes pacientes. De modo geral, a dissertação demostra a necessidade do envolvimento de psicoterapeutas com a leitura e co-construção do conhecimento empírico para auxiliá-los a nortear suas práticas, tornando-as mais efetivas. Pacientes borderline podem apresentar crises intensas, vivenciadas dentro do setting, o que constitui desafio técnico para terapeutas psicanalíticos. A adoção de perspectivas integradas de investigação, que contemplem métodos empíricos e a perspectiva clínica do psicoterapeuta, é fortemente recomendada.