Resumo:
Fósseis de pteridófitas são conhecidos para a Antártica desde o final da Era Paleozóica, mas se tornam mais abundantes nas áreas da península, onde se situam as ilhas King George e Nelson, foco deste trabalho, apenas a partir do Mesozóico. Compostas por litologias dominantemente vulcânicas (fluxos e queda de cinzas), ou geradas por seu retrabalhamento, os restos relacionados às Filicales são encontrados em níveis correspondentes ao final do Cretáceo e Paleógeno e se concentram na ilha King George, a mais bem conhecida, nas áreas mais ao sul (Península Fildes). O conjunto da tafoflora dos níveis mais antigos (Campaniano/Maastrichtiano) mostra muitas pteridófitas, acompanhadas de coníferas podocarpáceas e araucariáceas e angiospermas com características primitivas, dominadas por formas relacionadas com Nothofagus. Nas sucessões mais jovens, do Paleoceno Superior e Eoceno, embora a composição não se modifique qualitativamente, há uma modernização da flora, com o aparecimento de uma maior variedade de coníferas podocarpáceas e, entre as angiospermas, morfotipos foliares já comparáveis aos de famílias atuais (em especial, Sapindaceae, Aquifoliaceae, Lauraceae, Myrtaceae e, mais uma vez, uma grande abundância de representantes das Nothofagaceae). Para a ilha Nelson, onde uma única localidade fossilífera, o Rip Point, é aqui comunicada de modo inédito, o estudo das associações fósseis de plantas demonstrou uma deposição que se reveste de grande importância por sua correlação com aquela dos níveis mais antigos da ilha King George. Concentrada em dois níveis de tufos, entre lavas e conglomerados, a tafoflora do mais inferior contém, como macrorresto exclusivo, frondes com morfologias comparáveis àquelas descritas para o gênero Coniopteris (Brongniart) Harris, cuja presença entre os fósseis é praticamente restrita ao Mesozóico. A preservação das impressões de pinas e pínulas permitiram a identificação de uma nova espécie, C. antarctica. A análise do material palinológico mostrou, contudo, que a vegetação reunia também raras coníferas (podocarpáceas e araucariáceas) e tipos angiospérmicos primitivos, entre os quais, grupos polínicos ancestrais de Nothofagus. Este conjunto, além de apoiar uma idade entre o final do Campaniano e/ou Maastrichtiano basal para a deposição do Rip Point, sugere a presença de condições climáticas temperadas e úmidas para as áreas do norte da Península Antártica neste intervalo. Seus acompanhantes confirmam ainda o papel que a vegetação pretérita da Antártica teve na origem dos biomas que hoje se desenvolvem nas latitudes médias a altas e de clima oceânico do Hemisfério Sul.