Resumo:
Os registros de uso de crack no Brasil, nos últimos anos, têm aumentado, causando uma preocupação da sociedade como um todo, devido aos problemas decorrentes da dependência da droga. O tratamento da dependência, bem como a cessação do uso são objetivos possíveis de alcançar, uma vez que já existem usuários que conseguem se abster do crack. O objetivo deste estudo foi estudar as condições associadas à abstinência de crack. Trata-se de um estudo transversal, exploratório com amostragem em bola de neve, que reuniu 495 indivíduos vinculados a diferentes serviços de saúde da região metropolitana de Porto Alegre (RS) em virtude do uso de crack, que responderam um questionário pré-codificado, padronizado e pré-testado. Os dados foram submetidos à análise multivariada por regressão de Poisson com ajuste robusto da variância para estimar a razão de prevalência do desfecho abstinência, definido como referência a intervalos iguais ou superiores a 12 semanas desde o último episódio de consumo. Permaneceram em associação com abstinência: não ter companheiro/a (RP: 1.11 IC 95%: 1.04-1.19, p=0.004), ter familiar em atendimento em saúde mental (RP: 1.10 IC 95%: 1.03-1.17, p=0.004), luto nos últimos 12 meses (RP: 1.07 IC 95%: 1.02-1.13, p=0.007), dificuldades sexuais atribuídas ao crack (RP: 1.08 IC 95%: 1.03-1.13, p=0.003) e reconhecimento de comunidades terapêuticas como recurso efetivo (RP: 1.10 IC 95%: 1.02-1.18, p=0.016). Apareceram em associação negativa com abstinência: já ter fumado crack com pai (RP: 0.83 IC 95%: 0.73-0.95, p=0.009), dependência do crack (RP: 0.91 IC 95%: 0.83-0.99, p=0.038), autopercepção de saúde muito ruim (RP: 0.56 IC 95%: 0.53-0.58, p=0.000) e escore no BDI leve (RP: 0.93 IC 95%: 0.87-0.98, p=0.002) moderado (RP: 0.89 IC 95%: 0.82-0.96, p=0.002).