Resumo:
O Programa Escolas Interculturais de Fronteira (PEIF) nasceu da política linguística do governo brasileiro estendido aos países vizinhos como forma de consolidar a integração do MERCOSUL, prevendo as zonas de fronteira como espaço de uma cultura passível de intercâmbio, cooperação e integração constantes, estreitando, dessa maneira, os laços com os países vizinhos. Essa ideia chegou às escolas e às salas de aula dos anos iniciais do Chuí/Chuy, em 2009, pelo trabalho de intercâmbio docente, por meio do qual se pretende propiciar aos alunos o aprendizado das línguas de contato desse contexto geográfico, e da cultura do outro, dentro de uma proposta de referência linguística docente - um professor uruguaio e um professor brasileiro para cada turma envolvida no PEIF. O intercâmbio docente, entretanto, passa por dificuldades de implantação, as quais se evidenciam na mudança da gestão do programa e nas representações dos participantes. Para captar essas questões importantes relativas à implementação de uma política in vitro, este trabalho tem como objetivo geral discutir as representações de professores, gestores, pais e alunos sobre a aplicação do Programa Escolas Interculturais de Fronteira e se elas podem interferir na implementação do Programa. Para tanto, esta pesquisa tem como referencial teórico as representações sociais (MOSCOVICI, 1978), as representações e a ação da linguagem (BRONCKART, 1999, 2006), questões de política linguística (CALVET, 2007) e identidades culturais (HALL, 2005). A pesquisa é de natureza qualitativa e de cunho etnográfico, tendo como instrumentos de coleta de dados a entrevista semiestruturada, o diário de campo e o levantamento documental que regulamenta o PEIF. A metodologia dessa pesquisa baseou-se na interpretação do agir (BULEA, 2010), e a análise dos dados nos Segmentos de Tratamento Temático evidenciados nas falas relevantes das entrevistas semiestruturadas a docentes, gestores, pais e alunos das escolas envolvidas nessa pesquisa. Os Segmentos de Tratamento Temático foram detectados e agrupados por conteúdos temáticos (BRONCKART, 2006; BULEA, 2010). Além das falas, a pesquisa buscou a triangulação de dados com o Marco Referencial del Desarrollo Curricular (MERCOSUR, [2010?]), a Portaria nº 798 (BRASIL, 2012), que tratam do Programa citado e com o diário de campo da pesquisadora. Os resultados mostram que muitas das expectativas da comunidade escolar não condizem com as reais intenções do PEIF enquanto política linguística in vitro. Em especial, as representações dos pais colidem com as do texto do Marco Referencial del Desarrollo Curricular (MERCOSUR, [2010?]). Além disso, boa parte das representações dos participantes, em especial dos docentes e gestores, são decorrentes do desconhecimento prévio da cultura escolar do país vizinho, e, após vivenciar o PEIF, tais representações se apresentam sobre a resistência da aceitação das diferentes formas de trabalho no fazer pedagógico. Também se destacam as dúvidas quanto à proposta de trabalho do PEIF, em especial quanto aos projetos de aprendizagem e sobre o que deve ser ensinado no cruze. Essas incertezas resultam na descrença do sucesso na implementação do Programa.