Resumo:
A presente pesquisa propõe um olhar sobre as complexas relações presentes entre a mídia e a justiça, marcadas, principalmente, por temporalidades diferentes. E é nos crimes de grande repercussão, com sua farta cobertura midiática, que se permite uma maior visibilidade dos entraves que envolvem “mídia e justiça”. Por esse motivo, o foco da pesquisa são as matérias das revistas Época, Isto É e Veja que abordam o “caso Isabella” durante as quatro semanas consecutivas de abril de 2008. O presente trabalho investiga como o discurso de tais revistas organizou-se tanto para receber a participação do sistema jurídico, através das fontes que o representam, como para atender seu próprio tempo de produção, em termos de fontes jornalísticas, quando relataram, em seus impressos, o caso Isabella. A partir do suporte metodológico da Análise de Conteúdo, analisamos a frequência e a participação das fontes que representam o campo jurídico no caso Isabella, além de identificar as circunstâncias em que os semanários recorreram a outras fontes de informação, em função do conflito de temporalidade, e a forma como essas fontes preencheram as lacunas de informação produzidas pelos silêncios da justiça. Entre as nossas conclusões, ganha destaque a constatação de que a revista Época buscou fontes oficiais que a posicionassem como neutra e cuidadosa, além de sugerir freqüentemente o que deve ser feito no processo investigativo. Isto É recorreu às fontes oficiais para levantar tanto informações iniciais quanto finais do processo investigativo, que reafirmassem a culpa dos envolvidos no crime. Veja comportou-se como a instância que detém as informações do processo investigativo, não havendo necessidade de buscá-las nos discursos dos agentes jurídicos.