Resumo:
As organizações de saúde são ambientes que abrigam setores, atividades e processos, cuja complexidade favorece a ocorrência de eventos adversos (EA). Como forma de evita-los, a incorporação de modificações substanciais e adequadas, surge como necessidade básica para melhorar a segurança do paciente. OBJETIVO: Rastrear a ocorrência dos eventos adversos encontrados no Centro de Terapia Intensiva, através da abordagem proposta pelo Institute for Healthcare Improvement, utilizando a ferramenta de rastreamento global. MATERIAL E MÉTODO: Estudo transversal e analítico realizado no CTI adulto de um hospital privado e filantrópico de grande porte do município de Porto Alegre/RS. Foram analisados 128 prontuários por estratificação, proporcional e aleatório, de pacientes que tiveram alta do CTI adulto de abril a outubro de 2012. Foram incluídos os pacientes, maiores de 18 anos, que permaneceram no mínimo 24 horas internados no CTI, independente do desfecho de alta e excluídos pacientes em reabilitação e internação psiquiátrica. Os dados foram coletados por dois enfermeiros e um médico intensivista, que realizou a autenticação dos dados coletados, definiu o evento adverso e o dano. O protocolo de verificação de cada prontuário ocorreu no tempo preconizado de 20 minutos. Os dados foram classificados nos módulos terapia intensiva e cuidado: (a) C1: transfusão sanguínea ou uso de hemocomponentes; (b) C2: parada cardiorrespiratória; (c) C5: RX ou ecografia com doppler para estudo de êmbolos ou trombose venosa profunda (TVP); (d) I3: procedimento; (e) I4: intubação/reintubação; (f) outros. Os danos foram classificados seguindo as categorias de exclusão e inclusão. As variáveis qualitativas foram descritas por frequências absolutas e relativas e as quantitativas por média e desvio padrão. A fim de testar as associações entre as variáveis qualitativas, foi utilizado o teste quiquadrado. Para comparação de médias entre os grupos foi utilizado o teste t. Para todas as análises, considerou-se um nível de significância de 5%. O projeto foi aprovado pelos Comitês de Ética em Pesquisa das instituições. RESULTADO: Em 39,8% dos prontuários foram identificados algum EA, com uma média de 0,8 eventos por prontuário. O principal motivo de internação no CTI foi pós-operatório. Os pacientes que sofreram EA tiveram maior tempo de permanência no CTI (p <0,001). Foram identificados 51 pacientes com EA. Destes, 40 EA foram rastreados nos módulos de cuidado e terapia intensiva, identificados por 241 gatilhos, e 60 EA foram identificados por outros rastreadores propostos pela ferramenta do IHI. Em 56% dos casos, os EA foram classificados como dano temporário e houve necessidade de uma intervenção no paciente. Cerca de 15% tiveram dano que levou a necessidade de intervenção para manutenção da vida ou morreram. Os EA evitáveis ocorreram em 77% dos casos. CONCLUSÃO: O conhecimento de EA pode contribuir e direcionar estratégias de melhoria e busca de resultados, sendo que três alternativas foram elencadas para implantação de curto a médio prazo na terapia intensiva. São elas: (1) lista de verificação (Checklist); (2) criação de um programa de educação continuada e certificação para os profissionais de enfermagem da terapia intensiva; (3) implantar um método de avaliação sistemática de prontuários de pacientes que internaram no CTI Adulto.