Resumo:
A velhice é aqui compreendida como uma categoria que é de uma esfera biológica, uma vez que se dirige fisicamente aos corpos, e cultural, considerando o modo como as marcas e os sinais por ela deixados são significados. Como construção discursiva, portanto, não é considerada fixa, podendo ser modificada e reinventada ao longo do tempo. O jornalismo, nesse contexto, é tomado como prática que corrobora para a consolidação de um real, como campo, que é legitimado para falar de outros campos, e como discurso que contribui para a estruturação do tempo presente. Em face disso, o objetivo central desse trabalho é perceber quais sentidos são movimentados e construídos pela revista semanal Veja sobre a velhice ao longo de sua história. O corpus da pesquisa é composto pelas reportagens veiculadas entre os anos de 1968 e 2012, que trouxeram na velhice um de seus temas centrais. De um total de 2301 edições, foram localizadas 106 reportagens e, a partir delas, coletadas 226 sequências discursivas. Tendo como aporte teórico e metodológico a Análise de Discurso Francesa, foram percebidas duas Formações Discursivas. A primeira delas (FD01), Velhice como questão privada, mostrou-se hegemônica, envolvendo 74,33% das sequências e construindo uma velhice cuja responsabilidade é de cada um. A segunda (FD02), Velhice como questão pública, tratou da questão como algo de interesse coletivo, concernente a todos, agregando 25,66% sequências. De modo geral, constatou-se uma cobertura, na maior parte das vezes, limitada a aspectos estéticos e físicos, a qual ignorou pontos de maior relevância social e que, em função disso, ficou aquém da proposta de um veículo que se anuncia como essencial ao cidadão brasileiro.