Resumo:
Esta dissertação teve como objetivo estudar a presença no mercado brasileiro de ações da anomalia das ações de baixo risco (AABR), reportada originalmente por Black, Jensen, e Scholes (1972), na qual as ações de menor coeficiente beta apresentam resultados superiores aos das ações de beta elevado, contrariando as previsões do modelo CAPM, segundo as quais o retorno é função linear direta do risco dos investimentos realizados. Para isto, esse estudo teve como base cotações diárias ajustadas para proventos de ações listadas na BM&FBOVESPA durante um período de 18 anos (1995 a 2012), e consistiu na realização de diversos estudos de carteiras de investimentos nos quais as carteiras foram montadas agrupando as ações por ordem de coeficiente beta (estimados com base nos 750 dias anteriores tendo o IBOVESPA como variável explicativa). Os estudos foram realizados considerando cinco critérios alternativos de presença mínima das ações nas negociações dos 750 dias anteriores à seleção de ativos, de modo a permitir a análise da anomalia sobre diferentes restrições de liquidez, resultando na análise de um total de 86.350 carteiras. As evidências mostram que as carteiras formadas por ações de menor beta apresentam retornos mais elevados do que as carteiras de maior beta em cerca de oitenta por cento dos casos analisados, contrariando as previsões do modelo CAPM. Verificou-se também uma inversão do comportamento anômalo das carteiras durante as crises econômicas iniciadas em 1999, 2003 e 2007. Por meio de testes-t de diferenças de médias, verificou-se que as diferenças diretas entre as carteiras de menor e maior beta não são estatisticamente significantes na maior parte dos momentos de seleção. A realização de teste não paramétrico de diferença (teste de Kolmogorov-Smirnov) aponta pela não rejeição da hipótese de que os retornos das carteiras de menor e maior beta foram extraídos de distribuições estatísticas diferentes, levanta dúvidas e sugere a realização de estudos quanto à melhor forma de teste de diferenças de médias em amostras tão amplas quanto à adotada no presente estudo. Independentemente da questão da significância estatística dos resultados, a significância prática em função do maior retorno obtido pelas carteiras de beta baixo em 80% dos momentos de seleção de ativos aponta para a necessidade de estudos quanto aos motivos que poderiam explicar a anomalia, considerando inclusive formas alternativas para sua mensuração.