Resumo:
Os peixes anuais incluem um diversificado grupo de pequenos peixes da ordem Cyprinodontiformes, divididos em duas famílias taxonômicas, e distribuídos na África e nas Américas. O ciclo de vida dessas espécies está intimamente limitado e relacionado à dinâmica temporal das áreas úmidas temporárias. As características de seu ciclo de vida tornam os peixes anuais modelos biológicos excelentes para estudos de laboratório e desenvolvimento de teorias ecológicas. Na América do Sul este grupo está representado pela família Rivulidae e a maioria das suas espécies é encontrada no Brasil. No Rio Grande do Sul (RS) são encontrados os gêneros Austrolebias e Cynopoecilus e a alta representatividade de suas espécies demonstram a importância do Estado como um centro de endemismo desse grupo. A combinação de seu ciclo de vida especializado com seus tamanhos corporais reduzidos, área de distribuição restrita, limitada capacidade de dispersão, e a ampla destruição das áreas úmidas fazem com que inúmeras espécies da família Rivulidae se encontrem ameaçadas de extinção. As áreas úmidas apesar de serem ecossistemas de alta produtividade e diversidade biológica são um dos ecossistemas mais ameaçados e vulneráveis, e no Rio Grande do Sul se estima que mais de 90% dessas áreas já foram perdidas em função da agricultura e urbanização. Nesse sentido as Unidades de Conservação (UC’s) podem ser peça fundamental para a conservação desses ecossistemas e dos peixes anuais endêmicos e ameaçados. Entretanto o total de área protegida é insuficiente para conservar sua alta diversidade, e registros de peixes anuais em UC’s são escassos. A ausência de informações ecológicas sobre as populações de peixes anuais em áreas protegidas é um dos principais fatores limitantes para subsidiar a adoção de estratégias de conservação e manejo para as espécies desse grupo. Nesse sentido, nós analisamos a variação da abundância e tamanho corporal de Austrolebias minuano e Cynopoecilus fulgens, duas espécies endêmicas da Planície Costeira do Rio Grande do Sul em áreas úmidas temporárias do Parque Nacional da Lagoa do Peixe, uma importante Unidade de Conservação, considerada um sítio Ramsar. Essas espécies não têm registro em nenhuma outra área protegida e nosso estudo demonstrou que elas são encontradas em maiores densidades no início de seu ciclo de vida, quando apresentam tamanhos reduzidos. A espécie ameaçada de extinção, A. minuano apresentou uma baixa densidade, demonstrando a importância de planos específicos para sua conservação.