Resumo:
A tese apresenta a análise de um conjunto de programas da série Central da Periferia, exibida entre os anos de 2006 e 2008, na TV Globo. Compreendem-se os programas na sua dimensão produtiva televisiva e sociocultural, constituinte da realidade social. Por essa razão ingressa-se na espessura das mediações socioculturais, com o objetivo de caracterizar aspectos da relação entre mídia e periferia. Dessa maneira, o percurso metodológico põe em diálogo as narrativas televisivas construídas nos episódios analisados e as vozes do contexto sociocomunicacional ao qual se referem tais narrativas. Considera-se que parte do discurso midiático constrói a sua retórica obedecendo a especificidades inscritas na lógica social do consumo e dessa forma, a mídia oferta seu próprio significado de cultura-produto de “periferia”. Entretanto, no contraponto desse processo, constata-se que o tipo de organização e mobilização social articuladas pelos movimentos, identificados como sociocomunicacionais, interfere na delimitação das condições em que se realiza a operação de elaboração de sentidos sobre a periferia e suas produções culturais, artísticas e comunicacionais. Argumenta-se que nesse processo, os atores sociais da periferia negociam com o sistema midiático por meio de estratégias e táticas que revelam sua “arte de fazer” produtos culturais e comunicacionais, segundo um modelo diferente do que é imposto de “cima para baixo” pela mídia comercial hegemônica. Comprova-se, nesses fluxos culturais de negociação, a força do aprendizado construído na periferia, sobre um saber fazer comunicativo, antes restrito ao campo da comunicação midiática, provocando um processo de empoderamento capaz de causar deslocamentos significativos na estrutura do sistema de poder.