Resumo:
A revisão icnotaxonômica da paleoicnofauna Grupo Itararé no RS revelou a presença de uma icnofauna dominada por trilhas de artrópodes, com impressões de repouso e pistas de deslocamento intraestratal de artrópodes e escavações rasas de organismos vermiformes subordinadas, além de icnofábricas de Chondrites-Planolites-Palaeophycus. Duas novas icnoespécies, Cruziana intermittens n. isp. e Tonganoxichnus itararensis n. isp. foram diagnosticadas. A análise das assembléias icnofossilíferas evidenciou a presença duas paleoicnocenoses distintas: (i) Paleoicnocenose A, contendo trilhas de deslocamento de artrópodes e escavações rasas de artrópodes e de organismos vermiformes, vinculada à fácies de ritmitos; e (ii) Paleoicnocenose B, reunindo exclusivamente escavações mais profundas, vinculada à fácies de depósitos heterolíticos. Quatro suítes distintas são observadas na Paleoicnocenose A: (i) suíte MP, contendo Maculichna varia, Protichnites isp., Diplichnites gouldi e Diplopodichnus biformis, com Kouphichnium isp. subordinado, vinculada aos ritmitos do tipo A; (ii) suíte HT, composta por Helmithoidichnites tenuis e Treptichnus pollardi, com Nereites isp. e Tonganoxichnus itararensis n. isp. subordinados, vinculada com os ritmitos do tipo B; (iii) suíte CR, contendo Cruziana problematica, C. intermittens n. isp., Rusophycus carbonarius e Gluckstadtella cooperi, com H. tenuis subordinado, vinculada aos ritmitos do tipo C; e (iv) suíte Dg, monoespecífica para Diplichnites gouldi, preservada em palimpsesto sobre a suíte CR. A Paleoicnocenose B é formada por icnofábrica composta de Chondrites/Planolites, produzida em níveis intermediários do substrato, e Palaeophycus, em níveis mais superficiais. As assinaturas icnológicas registradas sugerem um sistema deposicional estuarino do tipo fiorde, com a zona mais proximal do estuário situada a ENE (região de Cachoeira do Sul) e a mais distal, a SSW (região ao sul de São Gabriel-sudoeste de Lavras do Sul). Os ritmitos do tipo B se concentrariam na região mais proximal, os ritmitos dos tipos A e C se desenvolveriam nas planícies laterais ao corpo d?água e os depósitos heterolíticos, próximos à desembocadura deste, junto ao mar, em águas salobras. O contexto das paleoicnocenoses A e B e seus vínculos faciológicos sugerem representar, respectivamente, uma Icnofácies Scoyenia atípica e uma Icnofácies Cruziana empobrecida. De acordo com o registro global, a presença de G. cooperi, M. varia, T. pollardi e T. itararensis n. isp. nos ritmitos permitem supor uma idade Carbonífero Superior para esses depósitos.