Resumo:
Nas instituições hospitalares, a divisão entre áreas fins (do negócio) e áreas meio (administrativas), repercute na gestão entre duas instâncias: especialistas gestores e gestores administrativos. Historicamente, os médicos vêm ocupando posições executivas nessas instituições, no entanto, ser gestor não costuma ser um desejo ou motivador para os médicos, que encontram seu reconhecimento na especialidade médica escolhida. Em contrapartida, as instituições hospitalares, ao mesmo tempo, têm o desafio de formar, constituir identidade e desenvolver líderes (de formação técnica) na busca de criação de valor. Portanto, neste estudo, procurou-se identificar e analisar que elementos são necessários à preparação dos médicos e das organizações hospitalares nas situações onde os primeiros são designados a funções executivas. Com esse intuito, a pesquisa realizada é de caráter exploratório, tendo como estratégia a pesquisa de campo. Foram realizadas entrevistas qualitativas, semiestruturadas, com 21 gestores médicos que atuam em instituições hospitalares ligadas à ANAHP – Associação Nacional dos Hospitais Privados. Essas instituições de saúde privadas abrangem quatro Estados brasileiros: RS, SP, MG e DF. Todas as entrevistas realizadas foram gravadas em áudio, transcritas para texto e categorizadas, sendo organizadas e analisadas por meio do software de pesquisa qualitativa NVivo 10®. Para discussão e interpretação dos dados de pesquisa, utilizou-se a análise de conteúdo, englobando a análise textual discursiva. Os resultados foram organizados em quatro unidades de análise: integração do gestor médico na cultura hospitalar, compreensão do processo de empoderamento dos médicos nas funções executivas, discussão da identidade profissional do gestor médico e a sinalização de fatores e práticas que contribuem para retenção e desempenho dos médicos nas funções executivas. O gestor médico entende e se reconhece diante desse processo identitário (de médico a gestor médico), mas apresenta inseguranças em se reconhecer plenamente na função de gestão, como ocorre com os executivos convencionais, pois o circuito identitário se dá por meio do seu reconhecimento como médico. O empoderamento executivo linear em outras áreas, como a administração, não ocorre da mesma forma com os gestores médicos, que encaram o aceite à posição como reconhecimento e gratidão (presença de valores pessoais) e não como opção ou escolha de carreira. Desse modo, as contribuições destacadas nessa pesquisa abrangeram a academia, o meio empresarial e os próprios gestores médicos.