Resumo:
Introdução: A Reforma Sanitária Brasileira promoveu a reorganização da assistência à saúde, direcionando a organização para a descentralização dos serviços e colocando a atenção primária como porta de entrada e modelo de reorientação do sistema de saúde brasileiro. Esse movimento influenciou profundamente os processos de trabalho dos profissionais da saúde, suscitando novas demandas e desafios de ordem ética. O enfermeiro vivenciou a ressignificação de seu trabalho e precisou desenvolver competências para lidar com contextos cada vez mais complexos, abordando a saúde também com base em seus determinantes sociais e subjetivos. Nesse sentido, a competência ética pode ajudar o profissional a refletir e desenvolver habilidades para lidar com os desafios da atenção à saúde e contribuir para a melhoria da qualidade do cuidado. Objetivos: Reconhecer o processo de construção da competência ética dos enfermeiros na atenção primária e quais são as possíveis fontes que contribuem para esse processo, de acordo com a percepção e a experiência dos enfermeiros. Metodologia: Trata-se de uma pesquisa qualitativa, baseada na fenomenologia de cunho interpretativo. A coleta de dados iniciou com um questionário estruturado sobre as competências da enfermagem seguida de uma entrevista qualitativa que abordou a percepção e experiência dos enfermeiros sobre os desafios éticos e a necessária competência para responder a eles. A análise do questionário foi feita através de cálculos estatísticos simples e a análise da entrevista seguiu os passos da hermenêutica. Os instrumentos foram aplicados a 10 enfermeiros de um serviço de saúde comunitária, em Porto Alegre, RS, Brasil. Resultados: O processo de construção da competência ética aparece pautado em três eixos principais: os valores, a educação e a experiência. Discussão: Os dois primeiros eixos são condições para o terceiro que se destaca, pois permite a construção coletiva da competência ética, capaz de agregar as características individuais de cada profissional, na busca pelo bem comum, que se insere na lógica de organização da atenção primária através do trabalho em equipe e da gestão compartilhada. Os encontros multiprofissionais podem promover a construção da competência ética, principalmente se organizados como momentos de educação permanente, que incorpora o aprender e o refletir criticamente sobre a prática profissional, para desenvolver competências e melhorar o desempenho das atividades. Conclusão: Para uma prática de saúde integral, responsável e compartilhada é necessários que os profissionais atuem como equipe na busca dos mesmos objetivos construindo a competência ética de modo coletivo, para um melhor cuidado dos usuários. Para isso, os espaços de educação aparecem como importante meio para promover a construção da competência ética, entretanto, estudos empíricos são necessários para mensurar sua efetividade.