Resumo:
Restos de plantas são comuns em áreas do norte da Península Antártica, em níveis datados entre o final do Cretáceo e início do Neógeno, tanto nas bacias de retroarco, como nas regiões correspondentes ao arco e antearco da Península continental e ilhas adjacentes. Sua importância reside na possibilidade que oferecem de reconstituir os eventos paleoclimáticos e paleogeográficos regionais aí ocorridos como, por sua relação com as modernas floras da América do Sul e Australásia, para a compreensão dos aspectos envolvidos na origem e distribuição das floras austrais modernas. A ilha King George, a mais setentrional das ilhas Shetland do Sul, insere-se no contexto de antearco e suas sucessões e fósseis foram profundamente afetados pelos eventos tectônicos e magmáticos que marcaram sua gênese. O objetivo deste trabalho é o estudo da flora preservada na pequena ilha Dufayel, situada no interior da baía Admiralty, porção central da ilha King George, onde os níveis com fósseis ocorrem entre litologias vulcânicas com idades K-Ar entre 52 e 57 Ma. A tafoflora foi revista e abordada em termos de sua caracterização taxonômica e relação com as litologias, e comparada com as presentes em bacias próximas e nas bacias austrais, objetivando avaliar sua coerência com as idades absolutas propostas, dada a possibilidade de rejuvenescimento das litologias datadas por este método. O intervalo fossilífero é constituído por tufos e tufos lapilíticos, com aproximadamente 4 m de espessura, atribuídos a Formação Dalmor Bank, unidade basal do Grupo Dufayel Island. Nas 42 amostras analisadas foi possível identificar 20 distintas formas, discutidas em suas afinidades. A precária preservação, onde muitas vezes faltavam os caracteres marginais e as nervuras de ordem mais alta, foi possível seu agrupamento em morfotipos e a separação de seus caracteres arquiteturais. Atestam uma tafocenose dominada por Nothofagus de folhas micro-mesofílicas, acompanhado por tipos relacionados com as famílias Myrtaceae, inclusive da secção Leptospermoidea, Sapindaceae, Anacardiaceae, Monimiaceae, Lauraceae, Celastraceae e Malvaceae, estando ausentes os fetos e coníferas, comuns em outras paleoassembléias da ilha King George. Composicionalmente a paleoflora é comparável com àquelas da base da Formação La Meseta, na Subacia de James Ross e das bacias austrais do Chile e Argentina durante o Paleoceno Superior e Eoceno basal. São igualmente correlacionáveis as que se distribuem entre o Eoceno e o Mioceno da Nova Zelândia. Assim, comprova-se a idade Eoceno Inferior (Ypresiano) proposta pelos dados isotópicos. Florestas subtropicais a temperadas úmidas de composição similar crescem hoje na região de Valdívia no Chile, e em áreas do sul da Austrália e na Nova Zelândia, entre os 35o e 45º de latitude. Sugerem condições ambientais mais aquecidas para seu crescimento nas áreas da Península durante o Paleógeno, e sua posterior dispersão para o norte, quando os climas na Antártica se tornaram desfavoráveis.