Resumo:
Profissões da área de proteção a crianças e adolescentes são caracterizadas por vínculo frequente com pessoas necessitando de proteção e pela impotência mediante as adversidades enfrentadas no trabalho. Portanto, estes profissionais podem se tornar vulneráveis a psicopatologias ocupacionais devido à complexidade do trabalho. O burnout, por sua vez, é uma síndrome relacionada ao ambiente laboral e têm gerado preocupações devido à seriedade de suas consequências. Por outro lado, a autoeficácia tem se mostrado um fator de proteção a esta psicopatologia e intervenções que potencializem a percepção de autoeficácia, juntamente com estratégias de enfrentamento são necessárias. Assim, o objetivo desta dissertação foi avaliar a correlação entre as variáveis burnout e autoeficácia, assim como as modificações nos seus índices, após a realização de uma intervenção direcionada a profissionais da área da assistência social, que trabalham com crianças e adolescentes. Para este fim, foram realizados dois estudos empíricos distintos, mas complementares. O estudo I objetivou verificar associações entre autoeficácia e burnout em profissionais de uma instituição de Assistência Social. Compuseram este estudo 77 profissionais, entre eles, educadores sociais, psicólogos, assistentes sociais e conselheiros tutelares (midade=32,58 dp= 9,11). Os instrumentos utilizados foram o Questionário Biossociodemográfico e Laboral; o Maslach Burnout Inventory, e a Escala de Autoeficácia Ocupacional. Foi observada associação negativa entre autoeficácia e as dimensões de exaustão emocional e despersonalização da síndrome de burnout e associação positiva com a dimensão de realização pessoal no trabalho. Tais resultados sugerem que, quanto maior percepção de autoeficácia em um indivíduo, menores os riscos de sintomas da síndrome de burnout e ao contrário, quanto menos sintomas de burnout, maior percepção de autoeficácia. O objetivo do estudo II foi desenvolver e realizar uma intervenção direcionada a educadores sociais de uma instituição de Assistência Social e verificar diferenças nos índices de burnout e autoeficácia antes e após a mesma. A amostra foi composta por 43 educadores profissionais (midade=32,15; dp=9,94). Igualmente, utilizou-se os instrumentos Questionário Biosociodemográfico e Laboral; o Maslach Burnout Inventory, e a Escala de Autoeficácia Ocupacional. Resultados demonstraram que a realização pessoal no trabalho aumentou após a intervenção, enquanto os índices das dimensões de despersonalização e exaustão emocional mantiveram-se estáveis entre T1 e T2. No entanto, foi observada uma diminuição dos índices de burnout de forma geral, e uma tendência sugerindo aumento nos índices de autoeficácia. Apesar dos dados terem baixa capacidade de generalização, os resultados de ambos os estudos indicam que intervenções que ofereçam subsídios teóricos e emocionais são fundamentais para que os profissionais da área de proteção a crianças e jovens. Presume-se que a percepção de ser capaz de enfrentar as adversidades cotidianas deste complexo trabalho, possa reforçar a percepção de autoeficácia laboral e a realização pessoal no trabalho. Consequentemente, espera-se que possa haver a prevenção ou redução dos riscos ao desenvolvimento da síndrome de burnout. Tornam-se necessários mais estudos contemplando profissionais da área da proteção a crianças e adolescentes e intervenções que possam oferecer-lhes suporte.