Resumo:
O presente estudo está vinculado a um plano de pesquisa maior, desenvolvido por Giering (2008-2012), que engloba projetos nos quais são estudados os processos textuaisdiscursivos envolvidos na divulgação científica midiática dirigida às crianças. O objetivo deste trabalho é analisar a presença da explicação nesses textos, buscando responder às seguintes questões: quais são as marcas linguístico-discursivas que assinalam a presença da explicação no corpus? Como é que se dá o funcionamento da explicação nesses textos? Também, como temos produtores textuais identificados no contexto de comunicação como jornalistas e outros como cientistas/especialistas, nos interrogamos se/como essas diferentes identidades dos enunciadores produzem modificações nas explicações produzidas. O corpus é composto por 34 textos publicados online pelas revistas Ciência Hoje das Crianças, Recreio, Mundo Estranho e pelo suplemento infantil Folhinha, do jornal Folha de São Paulo. São focalizadas duas perspectivas de análise: primeiramente, é analisada a estrutura sequencialcomposicional do corpus, conforme proposta de Adam (2001, 2008, 2011), verificando como ocorrem os movimentos explicativos. Depois, em uma perspectiva enunciativocomunicacional, conforme proposta de Moirand (1999), examinamos traços que permitem identificar, na materialidade textual, estruturas e formas da explicação. Com a análise dos dados, verificamos que a explicação está presente na estruturação sequencial-composicional dos textos, com a organização de muitos dos textos por meio de sequências explicativas dominantes, isto é, a sequência explicativa abre e fecha o texto, ou, então, com a inserção de sequências explicativas encaixadas. No entanto, mesmo não havendo a presença de sequências explicativas, observamos planos de texto que concorrem para a consecução do macroato de discurso explicar, fazer compreender. A partir de uma perspectiva enunciativocomunicacional, identificamos indícios linguístico-discursivos que sinalizam uma estrutura comunicacional explicativa que pode ser assim representada: A [produtor textual] explica a B [leitor] que S (a ciência) diz que (X explica Y). Encontramos, ainda, no fio do texto, a explicação de termos especializados, a qual está relacionada com a antecipação de uma possível demanda de explicação pelo leitor ou com a perspectiva global de explicar, fazer compreender um fenômeno ou processo. Com relação à análise comparativa dos textos do corpus quanto às possíveis diferenças observáveis nas explicações produzidas por jornalistas e por cientistas/especialistas, verificamos que todos os textos escritos por cientistas/jornalistas apresentam a estrutura canônica da explicação no nível sequencial-composicional, ou seja, a sequência explicativa é a dominante sequencial. Nos textos escritos por jornalistas, há uma maior variação em relação à estrutura sequencial-composicional. Também identificamos, nos 24 textos escritos por jornalistas, 12 ocorrências de discurso relatado por meio de citação direta das falas de cientistas/especialistas e nenhuma ocorrência nos textos dos cientistas/especialistas.