Resumo:
Esta pesquisa toma como objeto de estudo a cena chipmusic, considerando-a como uma atualização da virtualidade hardware. Para isso, vale-se da visada tecnocultural, uma forma de pensar culturalmente as tecnologias e de entender as propriedades tecnológicas em ação na cultura, que tem como foco desnaturalizar o olhar do pesquisador. O objetivo é identificar como e por que o hardware dura nos mais diferentes produtos desta cena, seja nas capas dos álbuns, nas músicas gravadas, nos sites ou nos vídeos reproduzidos nas apresentações ao vivo. Para analisar estes empíricos foram realizadas entrevistas e utilizados os métodos da intuição, da cartografia e da dissecação, procedimentos que mostraram que os produtos da chipmusic incorporam rastros dos hardwares de determinado estágio da técnica, que é ligeiramente anterior à cultura do software. Esses rastros também têm relação com microculturas contemporâneas (hacker, gamer, retrô) que atravessam e que são referência para a cena, além de acionarem imagens-lembrança que, por sua vez, fazem parte da memória dos equipamentos, das microculturas e do estágio da técnica que hoje são resgatados na chipmusic. Dessa forma, chega-se à constatação de que o hardware pode ser pensado como uma virtualidade que perpassa a sociedade e a cultura, atualizando-se não só nos equipamentos a, b ou c, mas também em manifestações culturais diversas. As ações dos usuários da chipmusic, portanto, são uma forma de garantir o protagonismo cultural e a aura dos hardwares dentro de uma época histórica em que os softwares se fazem cada vez mais presentes e a obsolescência cada vez mais veloz.