Resumo:
Buscamos, neste trabalho, examinar a especificidade dos modos de intervenção nas práticas dos agentes de segurança, investigando se é possível visualizar em que medida ela ocorre por meio da fala, em especial, diante de situações de risco, em que o agente, seguindo procedimentos, normas de ação, precisa agir, a fim de determinar o sucesso de sua ação, o fracasso de uma atividade criminosa, a solução de uma situação crítica, a manutenção de vidas. O presente estudo propõe, assim, realizar investigações sobre a atividade de trabalho de agentes de segurança pública da Central de Monitoramento do sistema de vigilância eletrônica da Cidade de São Leopoldo-RS, por meio de um exercício de aproximação e contato entre as duas áreas do conhecimento: a perspectiva enunciativa de estudo da linguagem (Flores e Teixeira, 2005) de Émile Benveniste e a ergologia (Schwartz, 2000). Ambas as perspectivas não se detêm em observar somente regularidades, mas focalizam os efeitos da intervenção sempre singular do sujeito, seja no uso da linguagem ou na atividade de trabalho. As situações de trabalho expostas em nosso estudo implicam em relações de comunicação entre os sujeitos, num diálogo constante com as normas, na efetivação do desempenho da atividade. Assim, a análise do corpus permitiu visualizar, além da instauração do quadro da enunciação através de indicadores do gesto de apropriação da língua pelo locutor (eu-tu-aqui-agora), formas que, embora não sejam classicamente definidas como “marcas de subjetividade”, apresentam um uso singular da língua, a partir do qual se configura, na fala dos agentes, a emergência da subjetividade. Desta forma, pretende-se olhar para a subjetividade no mundo do trabalho a fim de que se possa conhecer, pela enunciação, pelas marcas subjetivas identificáveis, o “saber fazer” no mundo do trabalho.