Resumo:
Apesar de sua grande diversidade biológica, produtividade e valores antrópicos grande parte das áreas úmidas já foi convertida pela agricultura ou silvicultura, e o impacto dessas alterações antrópicas sobre a anurofauna é uma forte limitação aos programas de manejo e conservação destes ecossistemas. Esta tese objetiva: 1) Reunir as informações sobre como o isolamento de áreas úmidas de dunas costeiras afeta a distribuição de anuros com diferentes dependências de água; 2) Verificar os efeitos de uma mancha florestal de pinheiros exóticos (Pinus spp.) sobre a assembléia de anuros em áreas úmidas no sul do Brasil; e 3) Averiguar como as diferentes práticas de manejo empregadas por orizicultores afetam a assembléia de anuros. Em uma escala de paisagem, sabe-se que o isolamento reduz as taxas de imigração e aumenta a chance de extinção de espécies; e que a relação espécie-área indicam que áreas maiores e mais próximas mantêm populações com maior número de indivíduos. Neste estudo a riqueza e composição de anuros em lagoas costeiras foram determinadas por uma combinação entre isolamento, diversidade de habitats e hidroperíodo. A área não influenciou a riqueza e composição de anuros nas áreas úmidas de dunas costeiras. Porém, o contínuo processo de fragmentação e alteração das áreas úmidas tende à aumentar o isolamento e diminuir a diversidade de habitats entre as áreas úmidas, influenciando diretamente as espécies de anuros de acordo com seu grau de dependência hídrica. Quanto a influência dos pinheiros, de modo geral, as áreas úmidas naturais apresentaram uma maior riqueza, abundância e diversidade que as áreas úmidas com pinheiros. Esse resultado indica que a ocorrência de pinheiros afetam negativamente, principalmente pela diminuição do hidroperíodo, a diversidade de anuros no sul do Brasil. A implantação de programas de manejo que incluam a remoção dos pinheiros exóticos das áreas de conservação do sul do Brasil, como o Parque Nacional da Lagoa do Peixe, é urgente para minimizar a expansão e os impactos sobre a anurofauna. As diferentes práticas adotadas pelos orizicultores após a colheita (presença ou ausência de água superficial) não influenciaram a riqueza e a abundância de anuros, entretanto houve uma significativa mudança na composição de espécies. A diferença na composição de espécies entre as práticas de gestão adotado é um resultado interessante termos de conservação da biodiversidade. Como uma nova prática de gestão de recursos naturais, os produtores de arroz poderiam manter parte de suas terras agrícolas inundadas durante a fase de resteva, este incremento no mosaico entre áreas alagadas e secas pode ajudar no suporte à uma maior diversidade de anfíbios anuros. Estes resultados devem ser levados em consideração para estratégias regionais de conservação de áreas úmidas no sul do Brasil, e principalmente nos programas de manejo de áreas úmidas costeiras protegidas do Rio Grande do Sul.