Resumo:
A indústria da construção civil tem passado por transformações significativas no Brasil e há de se destacar a crescente demanda na reutilização dos resíduos do setor, incentivada principalmente pela regulamentação da resolução n° 307/2002 do Conselho Nacional do Meio Ambiente e da lei federal n° 12.305/2010 que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Em paralelo à preocupação com os resíduos de construção, verifica-se um agravante com relação aos resíduos classificados como perigosos, especificamente, para este trabalho, tratando-se do uso de materiais com amianto. Embora se tenha conhecimento sobre as consequências e os malefícios do uso deste constituinte, observa-se resistência do setor em substituir o material. É neste cenário que se insere o presente trabalho, que tem por objetivo avaliar o ciclo de vida deste tipo de resíduo através da aplicação da técnica de Análise do Ciclo de Vida (ACV) do material amianto no setor da construção civil, especificamente as telhas empregadas em coberturas. Nesta avaliação determinaram-se, para todas as etapas, as emissões atmosféricas causadoras do efeito estufa e da chuva ácida e as que possuem toxicidade humana, além do consumo de insumos (água e energia). Posteriormente foi aplicada a técnica do Levantamento de Aspectos e Impactos Ambientais (LAIA), a fim de comparar os melhores cenários criados na análise do ciclo de vida. Este levantamento agregou à avaliação da ACV os impactos de utilização de recursos naturais e os riscos à saúde devido aos fatores cancerígenos dos materiais constituintes das telhas. Foram avaliados seis cenários de ciclo de vida de telhas de fibrocimento, sendo três com amianto e três com polipropileno (fibra alternativa). Em todos estes cenários, se fixou o local de extração das matérias-primas, o local da obra em que seriam utilizadas as telhas e o local de destinação final dos resíduos após o ciclo de vida, variando-se o local de fabricação das mesmas. Como resultado final, perante as técnicas de ACV e LAIA, o melhor cenário com polipropileno apresentou melhor avaliação em quatro das sete categorias estudadas, em comparação ao melhor cenário com amianto, que obteve índices melhores nas outras três categorias. Por outro lado, quando foram desconsideradas as etapas de transporte na avaliação, o melhor cenário com amianto gerou menos impactos em seis das sete categorias, quando comparado com o melhor cenário com as fibras de polipropileno. Deste modo, na ciência de que a etapa de transporte sempre estará presente nos ciclos de vida, considerandose as duas técnicas, e sob o foco ambiental, verifica-se que os cenários de fabricação de telhas de fibrocimento sem amianto mostraram uma menor geração de emissões, porém com maior utilização de insumos (água e energia). Cabe salientar que, de todo ciclo de vida, os resultados mostraram uma maior geração de emissões nas etapas de transporte, portanto, ao se adotar valores de transportes menores, poderiam-se encontrar cenários mais favoráveis.