Resumo:
A separação entre propriedade e controle nas empresas origina a chamada relação de agenciamento, na qual os sócios (principal) delegam a autonomia das decisões a executivos contratados (agente). A Teoria de Agência, que estuda este fenômeno, tem como um de seus pressupostos o autointeresse das pessoas. Diante disso, um dos objetivos do controle de gestão é assegurar ou diminuir as eventuais divergências entre os interesses dos proprietários e dos executivos. Essa Teoria indica a concessão de incentivos, como a remuneração variável, com essa finalidade. Nesse contexto, este estudo propôs-se a estudar este fenômeno, sobre como funciona um sistema de remuneração variável para executivos utilizado como forma de controle de gestão. Para isso realizou-se uma pesquisa aplicada sobre a realidade de uma empresa, que atua no ramo de bebidas, e possui planos de remuneração variável por desempenho. Os procedimentos de coleta das evidências foram: observação direta; análise documental; e entrevistas semiestruturadas com dez executivos contemplados nestes planos. O tratamento dessas ocorreu por meio da combinação entre as técnicas de análise de conteúdo e de discurso. Dentre outros resultados, as evidências indicam que a empresa premia o desempenho com remuneração variável, por participações nos lucros e gratificações em dinheiro. Essas formas de recompensa, os momentos de pagamento ao final de cada ano, o uso de indicadores de desempenho financeiros, e o padrão de desempenho anual, combinados, podem gerar um problema de agência por direcionar o foco dos executivos ao curto prazo. Compensando isso, verificou-se o uso de uma forma de avaliar o processo do desenvolvimento profissional do executivo de forma qualitativa, com efeitos de curto e longo prazos. A composição de três planos de remuneração por desempenho propicia alinhamento de interesses: (a) entre executivos e os demais funcionários; (b) entre os executivos, por serem remunerados por metas que não apresentem divergências matemáticas e pelo uso de metas coletivas e organizacionais; (c) entre sócios e executivos tendo esses a maior possibilidade de remuneração variável vinculada ao alcance da meta principal para empresa, o indicador EBITDA. Quanto aos interesses, os executivos que são sócios demonstram tranquilidade quanto ao risco deste tipo de remuneração, apresentando preocupação maior com a continuidade da empresa a longo prazo. Constatou-se também que o desejo de possuir metas como desafios e o desenvolvimento profissional foram apontados como motivos dos executivos preferirem a remuneração variável. Além dos planos de remuneração, a presença de dois sócios entre os executivos indica redução da assimetria informacional e maior facilidade no processo de alinhamento dos interesses de ambos.