Resumo:
Este é um estudo comunicacional de interface com a Filosofia, que articula duas temáticas: televisão e memória. De um lado, então, trabalhamos com perspectivas teóricas do campo da Comunicação, principalmente os conceitos de midiatização, audiovisualidades e ethicidades televisivas. Do outro lado, buscamos informações sobre memória nos pensamentos filosóficos de Henri Bergson, Paul Ricoeur e Sören Kierkegaard. Os tensionamentos teóricos possibilitaram a construção qualitativa do objeto, que denominei de Recordação televisual, cuja observação é guiada basicamente por três pontos: 1) os tempos em que são enunciadas lembranças singulares dos múltiplos indivíduos televisivos; 2) a intersubjetivação televisiva de memórias individuais – passados íntimos, privados, identitários; 3) uma reflexão sentimental do passado, que cabe a cada indivíduo fazer por si. Com o objetivo de apreender esse objeto em sua heterogeneidade e movência, articulamos à pesquisa o método intuitivo de Henri Bergson. Na primeira etapa do método, então, cartografamos as linhas de diferenciação. Para isso, foram imaginadas três categorias de fronteiras móveis, inspiradas pela metáfora da Constelação de Walter Benjamin: 1) Relatos de vida, em que a TV se torna um meio de enunciação de si, com narrativas orais sobre um passado íntimo; 2) Testemunhos de fatos televisivos, também composta por discursos orais, mas que visam à reconstituição de fatos que já são públicos; 3) Imagens mentais, tempos em que a TV constrói as imagens-lembranças dos indivíduos. Por fim, na segunda etapa da Intuição, as linhas divergentes foram convergidas para um mesmo ponto virtual, transformando o objeto num conceito. Em suma, a Recordação televisual se define como uma prática de construção de memórias individuais, mas que, através do uso de diversos elementos discursivos, se mantém sob o controle televisivo (de quem enuncia), e é utilizada para engendrar ações que perpetuem seu poder.