Resumo:
Esta tese tem como finalidade a caracterização do estatuto semiótico da imagemdocumento à luz dos pensamentos de Gilles Deleuze e Charles Sanders Peirce. Ao se retomar a influência peirceana sobre o pensamento cinematográfico de Deleuze – em geral associado ao bergsonismo – empreendeu-se uma revisão crítica das imagens-movimento e das imagenstempo sob o viés semiótico e se descobriu um novo tipo de imagem derivada da experiência cinematográfica contemporânea e que introduz problemáticas bem específicas para o estudo do cinema: a imagem-documento, foco desta tese. A imagem-documento é aqui concebida como imagem-tempo, mais precisamente como a face documental da imagem-cristal, cuja matéria expressiva é constituída pelas figuras da fabulação, da potência do falso, da alteridade do personagem, do agente provocador, do personagem intercessor, do jogo cênico, do transe, do deslocamento e da montagem nuclear. Nesse cinema de imagem-documento, ao invés de se identificarem os índices de uma realidade já vivida (como nos documentários clássicos), elas se comportam como flechas do tempo (em séries) que apontam para o vir a ser do mundo, inseparáveis das ideias de ação, intervenção e invenção, possibilitadas pelas imagens de fabulação. Além da demonstração das relações teóricas entre Peirce e Deleuze – que evidenciam as potencialidades desse encontro –, a imagem-documento foi abordada ensaisticamente. Nos ensaios, procurou-se estabelecer de que forma tal imagem funciona em cenas dos filmes Iracema, uma transa amazônica (1974), Jogo de cena (2007) e Di Glauber (1977), propostos como experiências brasileiras da imagem-documento. Esta tese, assim, procura revelar os modos como os pensamentos de Peirce e Deleuze se agenciam para dar lugar a uma nova imagem de pensamento cuja matéria de expressão são as imagens cinematográficas. Por fim, esta pesquisa também contribui para demonstrar que a prática da escrita deleuzeana concebida pelo viés peirceano pode trazer relevantes contribuições para ambas as teorias.