Resumo:
Esta dissertação de mestrado consiste em um subprojeto de um estudo maior (Uma mulher, um feto, e uma má notícia: a entrega de diagnósticos de síndromes e de malformações fetais – em busca de uma melhor compreensão do que está por vir e do que pode ser feito, OSTERMANN, 2013) e tem como objetivo descrever a entrega de notícias por um geneticista a gestantes ou puérperas e seus/suas acompanhantes durante aconselhamentos genéticos gravados em áudio, em um hospital materno infantil do Sistema Único de Saúde (SUS), localizado na região sul do Brasil. Depois de transcrever os 54 aconselhamentos genéticos gravados, selecionamos apenas os 21 aconselhamentos que lidam com a comunicação de resultados de exames e os investigamos por meio da Análise da Conversa (SACKS; SCHEGLOFF; JEFFERSON, 1974) para descrever as ações envolvidas na fase das consultas em que ocorre uma sequência de entrega de boas e de más notícias. A análise de dados revelou que o geneticista em questão entrega as notícias seguindo uma sequência didática composta pelos seguintes elementos: (1) pré-anúncio da notícia, (2) retomada dos resultados de exames anteriores que indicavam a realização de exames mais especializados, (3) série(s) de apresentação de perspectiva (MAYNARD, 1992) nos casos de más notícias, (4) anúncio da notícia em si e, (5) apresentação de algo potencialmente “positivo” dentro de cada quadro, quando as notícias tratam de um diagnóstico “ruim”. Outra tendência evidenciada nos dados refere-se ao processo de alocação da categoria de porta-voz da notícia ao médico, à equipe de medicina fetal e à própria instituição quando a notícia é boa. Quando a notícia a ser entregue é ruim, há um processo de distanciamento da pessoa que a entrega, uma vez que essa categoria é alocada ao exame. Assim, por ser colocado na posição de agente dos verbos que montam a notícia, o exame acaba sendo apresentado como “o responsável” pelo porte e entrega das más notícias. Esse processo de “agentivização do exame” está ligado ao processo de “despessoalização da doença”, que acontece devido à falta de referentes pronominais e/ou nominais que categorizem o feto como portador da doença e dos sintomas apresentados durante a sequência de entrega de notícias. A análise linguístico-interacional da entrega de notícias neste contexto de pesquisa revela práticas recorrentes no evento aconselhamento genético. A partir dessas recorrências, o geneticista apresenta formas para lidar com o sofrimento de pacientes e de seus/suas acompanhantes que podem ser disseminadas na formação de profissionais de saúde em áreas em que a entrega de diagnósticos é prática do dia-a-dia.