Resumo:
De acordo com a descrição original, os espécimes-tipo de Geoplana ladislavii Graff, 1899 caracterizam-se por apresentar dorso de coloração verde. Ao ser redescrita, Froehlich, 1959 considerou que exemplares de coloração marrom-esverdeado também seriam representantes dessa espécie. Em diversas formações florestais do Rio Grande do Sul, tem sido registrada a ocorrência de espécimes de dorso marrom ou marrom-esverdeado (Geoplana sp.) em simpatria com espécimes de Geoplana ladislavii Graff, 1899, tanto em áreas de mata quanto em áreas ajardinadas com diversos graus de antropização. No presente estudo, realizam-se análises morfológicas e moleculares das duas espécies visando verificar ou não a coespecificidade. Foram analisados exemplares procedentes de áreas de floresta ombrófila mista, floresta estacional semidecidual e floresta estacional decidual e de áreas ajardinadas de diversos municípios do sul do Brasil. Para identificação, realizou-se inicialmente a análise da morfologia externa, em vida e após fixação, registrando forma e tamanho corpóreos, padrão de coloração, distribuição dos olhos e localização da boca e do gonóporo. Após processamento histológico, analisou-se a morfologia interna em fragmentos do corpo correspondentes à região anterior, à região pré-faríngea, à faringe e ao aparelho copulador. Dois exemplares de cada morfoespécie foram submetidos às reações de Alcian Blue-PAS, azul de Bromofenol, DMAB e Ninhydrin-Schiff, para análise histoquímica das células secretoras. A extração de DNA foi realizada pelo método não-fenólico e proteinase K. A hipótese de relacionamento filogenético foi recuperada utilizando-se o gene mitocondrial citocromo oxidase subunidade I (COI) e a região do gene nuclear do espaçador transcrito interno 1 (ITS-1), amplificadas por PCR com primers específicos. Na epiderme da região anterior e da região pré-faringea de ambas espécies desembocam células com secreções protéicas e glicoprotéicas, além de células com glicoconjugados neutros em Geoplana sp. e células com glicosaminoglicanas em G. ladislavii. O bordo glandular de Geoplana sp. é conspícuo, constituído por três tipos de células secretoras: eritrófilas com secreção protéica, cianófilas com secreção glicoprotéica e xantófilas com secreção protéica. Geoplana ladislavii apresenta o bordo glandular pouco conspícuo, constituído por células eritrófilas com secreção protéica e cianófilas com glicosaminoglicanas. Ambas apresentam faringe cilíndrica, com glândulas cianófilas, eritrófilas e xantófilas/eritrófilas, além de um quarto tipo (células cianófilas com secreção protéica) em G. ladislavii. O tipo de secreção produzido pelas células cianófilas e xantófilas e/ou eritrófilas das glândulas faringeais se diferencia nas duas morfoespécies, apresentando proteína básica ou glicoproteína. A vesícula prostática é tubular com porção ental bifurcada, sendo intrabulbar em Geoplana sp. e extrabulbar em G. ladislavii. Ambas apresentam secreção protéica desembocando na vesícula prostática. A papila penial é oblíqua, projetada ventralmente a partir do teto e da parede anterior do átrio masculino, nas quais desembocam células com secreção protéica, glicoprotéica e com glicosaminoglicanas. Geoplana ladislavii se diferencia de Geoplana sp. por apresentar grande quantidade de células cianófilas desembocando próximo à inserção ventral da papila penial. Quanto ao átrio feminino, G. ladislavii apresenta secreções protéicas, enquanto Geoplana sp., secreções glicoprotéicas. Em relação às glândulas da casca, ambas as espécies possuem células eritrófilas, com secreção glicoproteica em G. ladislavii e secreção proteica em Geoplana sp. As análises moleculares indicam que Geoplana sp. representa um grupo taxonômico próximo de Geoplana ladislavii, mas independente desta. Assim, as análises morfológicas e moleculares indicam que Geoplana sp. e G. ladislavii são espécies distintas.