Resumo:
Esta dissertação e composta por três artigos, um de revisão sistemática da literatura e dois empíricos. A pesquisa desenvolvida teve como foco de investigação o coping religioso/espiritual (CRE) em mulheres com câncer de mama e foi estruturada a partir de um delineamento misto. No Estudo 1, buscou-se a) examinar as relações entre o CRE e as variáveis sociodemográficas, clinicas e religiosas de 83 mulheres com câncer de mama (idade media = 52,3 anos, DP = 7,27) e b) conhecer a percepção subjetiva sobre quem e Deus para essas mulheres para, desta forma, compara-las aos estilos de CRE. Para o Estudo 2, selecionou-se as 15 mulheres que obtiveram os maiores índices de CRE positivo no Estudo 1, a fim de que essas participassem de dois grupos focais. Dessas, sete aceitaram o convite para participação (idade media = 51,5 anos, DP = 7,20). O objetivo do Estudo 2 foi o de compreender o lugar que a religiosidade/espiritualidade ocupa na vida dessas mulheres, as formas de coping utilizadas durante o período do diagnostico e tratamento, bem como as possíveis mudanças ocorridas durante a experiência da doença. Todas as participantes pertenciam a grupos de apoio a pacientes com câncer da região metropolitana de Porto Alegre . RS. Os resultados do Estudo 1, obtidos através da aplicação de um questionário de dados sociodemográficos, clínicos e de atividade religiosa/espiritual (incluindo a pergunta aberta: ?\Para você, quem e Deus?.) e da Escala de Coping Religioso-Espiritual, nao permitiram a identificação de nenhuma associação significativa entre as variáveis sociodemográficas e clinicas e o CRE total e positivo, ao passo que a escolaridade apresentou uma associação significativa (r = -0,254; p<0,05) com o fator N3 (Reavaliação negativa do significado) da dimensão CRE negativo. Em contrapartida, foi possível identificar maiores índices de CRE total e positivo entre as mulheres com maior frequência a encontros de natureza religiosa. Uma diferença marginalmente significativa [t(81) =1,749, p<0,10] foi encontrada no fator N1(Reavaliação negativa de Deus) entre mulheres que moravam com filhos (n=45) e aquelas que não moravam (n=38). Mulheres que não moravam com os filhos apresentaram media superior nessa estratégia de CRE (M= 2,11, DP= 1,09) do que aquelas que moravam com os filhos (M=1,73, DP=0,88). A percepção subjetiva das mulheres sobre quem e Deus permitiu a identificação de oito categorias, das quais, três apresentaram associações significativas com os estilos de CRE. Além disso, o Estudo 2 revelou o estabelecimento de uma relação positiva com Deus entre as participantes, capaz de proporcionar forca, esperança e conforto. As crenças religiosas auxiliaram no entendimento da doença, aumentando a confiança de que a enfermidade seria curada. A família e os membros de comunidades religiosas revelaram-se fontes potenciais de apoio social. Além disso, características da personalidade das participantes foram atenuadas, as quais foram decorrentes de um processo de reflexão quando do diagnostico. Contudo, destaca-se que estratégias de CRE negativo também estiveram presentes, merecendo ser observadas e trabalhadas para promover uma melhor adaptação. Os resultados reafirmam a necessidade de uma abordagem na qual os profissionais da saúde contemplem as crenças religiosas/espirituais das pacientes, visando o estimulo das estratégias de CRE positivas e a reavaliação daquelas nocivas.