Resumo:
A deficiência mental é, como qualquer outro conceito da ciência, um trabalho social, histórico e discursivo. Esse conceito tem se transformado, portanto, e pesquisadores têm buscado respostas para como enfrentar essa condição de forma que as pessoas envolvidas tenham, cada vez mais, melhor qualidade de vida. Por mais que o conceito se transforme, todavia, nunca deixou de estar baseado na ideia de limitação intelectual, e , nesta pesquisa, se acredita que esse é um ponto nevrálgico do problema. A pesquisa tem caráter empírico e investiga as manifestações de linguagem de um indivíduo com esse diagnóstico, durante uma atividade lúdica, problematizando a hipótese de limitação, restrição ou deficiência para explicar o desenvolvimento. O corpus se constitui de gravações em vídeo realizadas em uma escola da rede municipal de uma cidade do Vale do Paranhana-RS. Para a análise dos resultados, dialoga-se com a visão de desenvolvimento e de aprendizagem propostas por Vygotsky (1989; 2001) relacionadas aos conceitos de auto-organização e de caos (JOHNSON, 2003). A partir do quadro epistemológico do interacionismo sociodiscursivo (BRONCKART, 1999; 2006b), no campo da linguagem, é explorada uma noção de construção de sentidos, composta por quatro atividades complementares e inseparáveis, a saber, a referência, a co-construção da memória, a produção de hipóteses e a antecipação de situações. Essas quatro atividades são estudadas do ponto de vista linguístico e parecem ser suficientes para problematizar a ideia de limitação de inteligência. Os resultados permitem verificar uma instabilidade cognitiva que é não somente manifestada na atividade de linguagem, como também por ela produzida de forma coletiva.