Resumo:
Às vésperas dos 70 anos, a televisão aberta, com quase a totalidade de abrangência nos domicílios brasileiros, entrará na fase de transmissão digital. Esta mudança de paradigma - ancorada pela superficial discussão pública e sustentada por pesquisas financiadas pelos interesses mercadológicos -, poderia significar uma inversão da dicotomia genuína da televisão no país, que mantém as emissoras comerciais nos canais abertos, em contraposição aos canais de acesso público disponibilizados na televisão por assinatura. As televisões ligadas às universidades, inseridas no campo de canais de acesso público, deram origem a um segmento representativo no país, que, junto às TVs comunitárias e educativas consistiria em um núcleo capaz de fomentar a produção de conteúdo local, contribuindo para a pluralidade da oferta de produtos audiovisuais e, consequentemente, para a democratização da Comunicação no Brasil. A partir da identificação dessa potencialidade nas emissoras ligadas às universidades federais, estaduais ou regionais públicas, associando a essas instituições o caráter de financiamento e finalidade públicos, como produtoras de conteúdo local ou regionalizado alinhado à pluralidade e à democratização audiovisual, a tese propõe uma investigação sobre as TVs universitárias público-estatais nas cidades do interior do Brasil. A avaliação da preparação para a convergência digital nas oito TVs universitárias público-estatais do interior do Brasil confirma as limitações técnicas características deste setor no país, as dificuldades de financiamento, a escassa inserção no debate político da mudança tecnológica que atinge o espectro audiovisual brasileiro, e as tímidas experiências relacionadas à interatividade. A pesquisa confirma, por outro lado, a associação deste grupo com a prioridade pelo conteúdo local, e raros casos de cenários avançados em direção à digitalização em um campo marcado pela escassez de investimentos. Entretanto, o horizonte concreto para a ampliação do espaço das TVs, tanto universitárias, quanto mais amplamente o conjunto das emissoras público-estatais, no novo paradigma da televisão digital no Brasil permanece refém de definições políticas que não apresentam perspectivas para a reversão da atual dicotomia presente na fase analógica.