Resumo:
A degradação dos solos é um dos principais problemas relacionados ao desenvolvimento sustentável, e um dos grandes desafios a serem enfrentados já neste século. A ação do homem no planejamento e desenvolvimento da ocupação do espaço na Terra requer cada vez mais uma visão ampla sobre as necessidades da população, os recursos terrestres e aquáticos disponíveis e o conhecimento sobre o comportamento dos processos naturais, para racionalmente compatibilizar necessidades crescentes com recursos limitados. A crescente degradação do solo sob exploração agrícola em todo o mundo despertou nos últimos anos uma preocupação com a qualidade do solo e a sustentabilidade da produção agrícola. A matéria orgânica do solo é um fator relevante na qualidade deste, sendo uma fonte de energia, de carbono e doadora de elétrons da grande maioria dos organismos, o que evidencia sua importância para a biota desempenhar suas funções no sentido de promover as propriedades do solo. O objetivo deste trabalho é avaliar a degradação do solo na microbacia do arroio Morungava, com uso da Equação Universal de Perda de Solo (EUPS), através de análise da variação temporal da matéria orgânica nos horizontes superficiais, em solos Hidromórficos e Argissolos, sob práticas de cultivo em diferentes períodos de uso (18 meses de cultivo; 10 anos de cultivo; 15 anos de cultivo e mais de 30 anos de cultivo), utilizando áreas de mata nativa como referência. Em condições naturais os argissolos mostram um aumento de matéria orgânica (MO) com a profundidade. Nos horizontes superficiais dos solos cultivados analisados observa-se perda de MO por erosão e oxidação superficial, com pouca translocação vertical. Neste caso, a erosão superficial acelerada antropicamente, faz com que o Horizonte B dos argissolos fique próximo a superfície, eventualmente exposto, com o passar do tempo. Já os solos hidromórficos verificam-se grandes perdas iniciais com a retirada de matas nativas, o que pode ser em parte atribuído à oxidação acelerada da MO, devido às mudanças ambientais. Para os solos hidromórficos com mais de 15 anos de uso, verifica-se um comportamento inverso, ocorrendo um significativo aumento superficial da MO, o que pode ser devido ao aporte de MO originado dos argissolos adjacentes. Assim, as planícies aluvionares, para tempos de uso superiores há 15 anos, devem provavelmente atuar como zonas de acumulação de MO na bacia hidrográfica. Há um provável processo menos intenso de translocação vertical, o qual é observado nos primeiros 10 anos de uso dos hidromórficos. Quanto à avaliação espacial de perda de MO observa-se taxas com variação de 0 até 239,15 t ha¯¹ ano¯¹ com o uso do solo atual. Assim, 54,12 % da área apresentam taxas de perda de MO entre 0 a 0,5 t ha¯¹ ano¯¹ 42,21 % variam de 0,5 a 5 t ha¯¹ ano¯¹e os demais 3,67 % de área apresentam perdas de MO acima de 5 t ha¯¹ ano¯¹. Em um cenário onde a legislação ambiental (Código Florestal Federal - Lei 4.771 de 1965 e Código Florestal Estadual - Lei 9.519 de 1992) é cumprida, com reflorestamento nas Áreas de Preservação Permanente ? APPs, referente às encostas com declividade acima de 45º e faixas de 30 metros de cada lado, ao longo dos cursos d´água, observa-se 62,17 % da área com taxas de perda de MO entre 0 a 0,5 t ha¯¹ ano¯¹, 36,86 % variam de 0,5 a 5 t ha¯¹ ano¯¹e os demais 0,97 % de área apresentam perdas de MO acima de 5 t ha¯¹ ano¯¹, chegando a atingir 37,28 t ha¯¹ ano¯¹em alguns pontos. Para um cenário onde a faixa de preservação é de apenas 5 metros de cada lado, ao longo dos cursos d´águas, de acordo com a legislação ambiental do Estado de Santa Catarina (Art. 114 da Lei Estadual 14.675, de 13 abril de 2009), observa-se que as taxas de perda de MO aumentam. No cenário anterior as perdas acima de 5 t ha¯¹ ano¯¹, atingem apenas 0,97% do total da área. Aplicando a legislação do Estado de Santa Catarina, as taxas de perda acima de 5 t ha¯¹ ano¯¹, atingem 1,03 % do total da área. As taxas baixas de perda de MO (abaixo de 0,5 t ha¯¹ ano¯¹) para o cenário de 30 metros de preservação chegam a 62,17% da área. Já no cenário com faixa de preservação de apenas 5 metros, as taxas baixas de perda de MO chegam a 53,16% da área. Apesar de ser uma diferença pequena de taxas de perda de MO, estas taxas apresentadas comprovam que a diminuição das faixas de preservação de 30 metros para cinco metros, acarretará em prejuízos ao meio ambiente. Em um cenário onde toda a faixa de preservação de 30 metros de cada lado, ao longo dos cursos d´água, é retirada, as taxas de perda de MO variam de 0 até 239,15 t ha¯¹ ano¯¹. Neste caso 53,16 % da área apresenta taxas de perda de MO entre 0 a 0,5 t ha¯¹ ano¯¹, 43,02 % variam de 0,5 a 5 t ha¯¹ ano¯¹ e 3,82 % de área apresentam perdas de MO acima de 5 t ha¯¹ ano¯¹, chegando a atingir 239,15 t ha¯¹ ano¯¹ em alguns pontos. Essas taxas de perda são equivalentes ao uso do solo atual da área. Isto ocorre pelo fato da microbacia do arroio Morungava apresentar grandes extensões de faixa de preservação ao longo desses cursos d´água, totalmente desmatadas. O cenário criado para desmatamento de 30 metros é semelhante à situação real da área. A partir dos resultados obtidos das coletas de campo e dados gerados em laboratório, conclui-se que a micro bacia do arroio Morungava está sofrendo processo erosivo acelerado com o decorrer dos anos, principalmente em zonas de maior declividade, onde predominam os argissolos. Já os solos em posição fisiográficas com baixa erosão potencial superficial, como os hidromórficos, atuam como zonas de acumulação de sedimentos e matéria orgânica. Verifica-se uma variação ampla nas taxas de perda de MO com o uso do solo atual, com teores elevados nas áreas com maior declividade. Estes teores, de acordo com cenários gerados de reflorestamento, podem diminuir com o cumprimento da legislação ambiental. Assim pode-se afirmar que a EUPS foi fundamental para avaliar a perda de matéria orgânica na microbacia.