Resumo:
Esta dissertação dedica-se a refletir acerca da construção da notícia sobre os movimentos sociais. Trata-se de uma análise das rotinas produtivas que elege como ambiente para a investigação as redações de dois jornais de Porto Alegre (RS): Correio do Povo e Zero Hora. Inspirado na etnografia, o método consiste na observação das práticas de jornalistas no seu cotidiano - sete dias em cada redação -, e na produção, à luz das teorias mobilizadas, de inferências que contribuam à compreensão do problema: quanto da complexidade dos movimentos sociais o Jornalismo pode representar? E mais: que fatores da ordem das relações políticas, econômicas e sociais incidem nesse processo? A discussão é iluminada pela Teoria Geral dos Signos, de C.S. Peirce, em especial no conceito de semiose. Portanto, a notícia é entendida como signo, constituído por lógicas diversas, que alimentam complexos processos de semiose, e fator de mediação entre os acontecimentos e o público/leitor. Alia-se a isso a definição de acontecimento em Louis Quéré, dotado de um poder hermenêutico que revela campos problemáticos representados como objeto semiótico do signo/notícia. Propõem-se um exercício dialético de definição dos conceitos-base, seguido da ida ao campo, para, então, na abstração, no cotejamento entre teoria e prática, estabelecer uma síntese razoável. E o resultado se mostrou revelador. Em meio a uma sociedade marcada pelo "consenso neoliberal", um Jornalismo que preserva convenções fortemente redutoras da complexidade semiótica de organizações que não alinham-se à essa perspectiva e ao Jornalismo tratado como negócio no capitalismo, há, sim, espaços alternativos de produção de sentido pelos quais se processa uma semiose da notícia que constrói um signo capaz de dar a ver mais das demandas dos movimentos sociais na condição de campo problemático enquanto objeto. O desafio é saber ocupá-los.