Resumo:
A Guerra Russo-Ucraniana, além dos combates bélicos em larga escala, provocou embates nas esferas midiática, cultural, política, econômica, entre outras. A proposta desta dissertação é compreender como esses embates dos sentidos sobre a guerra se deram no contexto brasileiro – marcado por questões históricas e ideológicas profundas, como o anticomunismo que se atualiza e no discurso político. Assim, o problema de pesquisa se configura da seguinte forma: De que forma ocorrem as disputas de sentido sobre a Guerra Russo-Ucraniana sob o prisma ideológico e sociocultural brasileiro, a partir das dimensões do Imaginário, Real e Simbólico? A partir da ambiência da midiatização da sociedade, o estudo se guia pelo objetivo de investigar as disputas de sentido na circulação subjacente às publicações referentes à guerra da Ucrânia na plataforma Twitter, com foco nas disputas ideológicas e no contexto sociocultural brasileiro. A discussão teórica traz, como eixos principais: a tríade Imaginário, Real e Simbólico (LACAN, 2009) aplicada à semiose midiatizada (FERREIRA, 2022); a relação entre imaginário midiático e social (ROSA, 2019a) na circulação (FAUSTO NETO, 2008); lutas simbólicas; desrealização (SODRÉ, 2021) e eufemização; problematização da guerra na Ucrânia como conflito midiatizado. Os corpora de observáveis são compostos de três conjuntos de postagens de perfis no Twitter, incluindo comentários/respostas: Conjunto 1 – aparições da bandeira soviética no campo de batalha; Conjunto 2 – a figura de Vladimir Putin associada ao passado soviético; Conjunto 3 – Relatos do cerco a Mariupol, incluindo associações do Batalhão Azov ao nazismo. O objeto de pesquisa foi abordado a partir de movimentos inferenciais abdutivos, dedutivos e indutivos, além da reflexão do paradigma indiciário e do caso midiatizado. Para a análise dos observáveis, construiu-se uma experimentação metodológica que trabalha a circulação como operações de atribuição de valor, entre produção e reconhecimento, nas dimensões do Imaginário, Real e Simbólico. Dentre os resultados, pode-se citar a constatação de que as imagens e relatos do conflito que chegam têm um grande poder de mobilização, mas é igualmente relevante aquilo que retroage sobre a discussão da guerra a partir do tecido social, de embates que estão ocorrendo em outros circuitos. As operações dos agentes debatedores mobilizam imaginários sociais, trazendo imprevisibilidade à circulação, transbordando os sentidos, com recontextualizações e agenciamentos.