Resumo:
Esta pesquisa é desenvolvida no âmbito dos estudos em midiatização, tendo como foco a
discussão acerca da circulação de sentidos sobre direitos humanos que é agenciada a partir do assassinato da vereadora Marielle Franco, ocorrido em 2018. Partimos desse acontecimento para observar os sentidos sobre direitos humanos que daí emergem, ou seja, como são evidenciadas as tensões sociais e políticas sobre essa temática que ganham contornos particulares a partir do atravessamento com o campo comunicacional em uma sociedade intensamente midiatizada. O trabalho analítico tem foco na circulação, por entender que é neste espaço de disputas e negociações que podemos identificar os modos como os atores de diferentes campos se apropriam dos produtos simbólicos, dando a eles novos contornos. No caso Marielle, esse processo se torna evidente em razão da mobilização que o acontecimento gera em torno da imagem da vereadora, mas também das discussões sobre direitos humanos que se configuram em distintos espaços midiáticos e midiatizados. Os observáveis desta pesquisa são constituídos por matérias jornalísticas publicadas entre os anos de 2018 e 2021, e pelas ações comunicacionais do Instituto Marielle Franco. Para trabalhar com a diversidade de observáveis que elegemos, utilizamos o conceito de caso midiatizado (WESCHENFELDER, 2019, 2020), a partir do qual os fenômenos passam a ser observados considerando as novas dinâmicas de organização social e comunicacional. Para a construção do caso de pesquisa,
recorremos ao paradigma indiciário como operação para rastrear pistas da circulação, uma vez que este sugere a busca e identificação dos traços que caracterizam o objeto a partir dos indícios que possibilitem a elaboração de inferências que são produzidas a partir do tensionamento com os conceitos de midiatização, circulação e lógicas de midiatização, articulados segundo o pensamento de autores como Braga (2012, 2015, 2017), Carlón (2017), Fausto Neto (2010, 2018), Ferreira (2018; 2019), Rosa (2019, 2020) e Verón (2013). Por fim, destacamos a relevância do debate sobre comunicação e direitos humanos, entendendo ser a circulação o espaço interacional em que a percepção de incompletude dos discursos normativos é evidenciada e tensionada por outros atores e coletivos até então invisibilizados, que assumem o trabalho de produção de sentidos, afirmando-se como sujeitos de direito, como agentes na construção de direitos em um contexto intensamente midiatizado.