Resumo:
Minerais são o registro fundamental dos processos abióticos e um dos principais registros
da vida ao longo do tempo, mesmo assim, faltam critérios sólidos que possam distinguir
produtos bióticos de abióticos. Isso porque, cada vez mais a ubiquidade da vida na
superfície terrestre tem sido comprovada e, portanto, desconhecemos todos os papéis
biológicos na mineralização ao longo do ciclo sedimentar. Um outro motivo é a condição
natural de sobreposição e repetição de processos geológicos que definem o registro.
Dubiofósseis minerais são relevantes pontos de investigação para resolver a questão, uma vez que se situam no limiar do conhecimento entre abiótico e biótico. Logo, o objetivo da presente dissertação é decifrar a origem e história de estruturas mineralizadas
ramificadas até então consideradas como dubiofósseis minerais da Formação Rio do Sul,
Pensilvaniano da Bacia do Paraná, Itaiópolis – SC, buscando contribuir para a investigação da biogenicidade de minerais. Essa ocorrência é interessante por remeter
aspectos biológicos, porém de difícil associação a qualquer grupo fóssil. Além de estar
inserida em um contexto de sobreposição de processos geológicos: ocorrendo muito
próximo ao contato dos ritmitos da Fm. Rio do Sul com uma soleira do Grupo Serra Geral
– Cretáceo inferior com comprovado efeito termal. Baseado em investigações de
dubiofósseis anteriores, foi estabelecido um protocolo de descrição em quatro classes de
atributos: 1) morfologia, estrutura e textura, 2) relação com a matriz, 3) composição, 4)
contexto, avaliando também a indigeneidade e singenicidade do material e comparando
com outros minerais bióticos e abióticos. O dubiofóssil apresentou alta variação de
formas, de tamanhos, texturas, diferenças com a matriz, uma composição organizada
complexa de calcita com Fe, Mg, Al internamente e um contexto intricado no qual algum
dos múltiplos processos abióticos e bióticos pode ter gerado a ocorrência. A extensa
comparação com minerais abióticos, biominerais controlados, induzidos e influenciados
não resultou em nenhuma hipótese provável. Exclui-se também, a possibilidade de ser
um biomineral controlado por sua diversidade de formas sem padrão e ter a origem
puramente termometamórfica pela forma alongada ramificada. Sugerindo, portanto, uma
história complexa para a ocorrência: origem sindeposicional ou eodiagenética de algum
carbonato ou sulfato (gipsita, ilkatia, dolomita, calcita, siderita etc.), que pode estar
vinculada com a presença das esteiras microbianas. O EPS ou bactérias filamentosas
podem ter servido como gabarito para a mineralização e ainda ter mediado o crescimento
mineral. A mesodiagênese pode ter modificado a ocorrência, mas o principal agente foi a
intrusão cretácica que ao degradar a matéria orgânica associada dissolveu, substituiu o
mineral inicial e precipitou calcita produzindo o dubiofóssil. Em todas essas etapas as
reações físico-químicas e biológicas, auxiliadas pelas características intrínsecas da
matriz, quantidade de matéria orgânica e distância do contato com o corpo intrusivo,
podem ter aumentado a complexidade morfológica. O material apresentado é um exemplo de que dúbiofósseis podem ser resultado de uma história complexa e sobreposição de processos geológicos. Além disso, demonstra a escassez de argumentos de biogenicidade que diferenciem biominerais de minerais abióticos.