Resumo:
Em percurso caminhante de transformação, a pesquisa a seguir trabalha a tessitura de
vozes indígenas para a compreensão do conceito de etnomultimídia indígena, a partir de
marcas históricas e contemporâneas desse fazer político-comunicacional, elaborado e
veiculado exclusivamente por sujeitos comunicantes indígenas. Ao longo do tempo, suas
configurações e práticas identitárias vêm contribuindo para a existência e demarcação de
uma autocomunicação crítica, cidadã e descolonizadora dos povos originários do Brasil.
De modo geral, objetivamos compreender como a etnomultimídia indígena, a partir de
configurações e práticas identitárias históricas e contemporâneas, bem como suas redes e
fluxos etnomulticomunicacionais, contribui e luta para a (re)existência de uma
demarcação autocomunicativa crítica, cidadã e descolonizadora com os povos originários
brasileiros. Para tanto, intentamos apreender de marcas comunicacionais históricas e
contemporâneas de meios etnomultimidiáticos indígenas, a partir de vozes de sujeitos
comunicacionais indígenas, os seus modos de ver, ler, escutar e pensar a Comunicação.
Em ambiência teórico-metodológica, trabalhamos com eixos categóricos, como
etnomídia indígena, identidade étnica, cidadania etnocomunicacional e intercultural, por
meio do diálogo com epistemologias e processualidades indígenas, bem como propomos
uma construção estética que trabalhe a escuta multidimensional de diversas formas de
expressão indígena, como a oralidade, a memória, a cosmologia, as artes plásticas, as
micropolíticas originárias em âmbitos brasileiro e latino-americano. Trabalhada em
perspectiva transmetodológica, a investigação-percurso inicia com uma etnografia
virtual, inventariada em dois diários digitais. O primeiro diário registra vozes de
comunicadores indígenas em boletins e informativos indigenistas, bem como em
produções impressas etnomidiáticas durante o período de 1970 a 2020, e que integram o
acervo da Hemeroteca do Centro Virtual de Referência Indígena do portal Armazém da
Memória. O segundo diário contém informações e notícias factuais compartilhadas no
grupo Ronda Indígena Yandê, entre dezembro de 2020 a novembro de 2022. Formado na
rede social WhatsApp, o grupo tem 70 integrantes, dentre comunicadores e lideranças
indígenas e comunicadores não-indígenas. A construção de ambos os diários digitais
possibilita percorrer um traçado contextual histórico, social, político, econômico e
cultural, que não é sincrônico, mas um percurso de tempo de idas e vindas do qual
emergem vozes indígenas, especialmente femininas, que nos dão pistas sobre
configurações históricas e contemporâneas etnomulticomunicacionais indígenas no
Brasil. Por fim, de modo sistemático, realizamos uma roda de conversa para diálogo e
escuta sobre o cenário passado e presente da autocomunicação indígena brasileira, a fim
de compreender sobre redes etnomulticomunicacionais horizontais de resistência para o
exercício de uma cidadania etnocomunicativa indígena descolonizadora, justa e liberta.