Resumo:
A presente pesquisa de dissertação investiga o ciberacontecimento (HENN, 2014) e os
sentidos acionados a partir da repercussão da reportagem Mulheres trans presas enfrentam preconceito, abandono e violência, veiculada no programa Fantástico, da Rede Globo, em 1º de março de 2020. A reportagem, apresentada por Drauzio Varella, retrata a realidade de mulheres trans presas, apenadas em presídios masculinos no Brasil. Ao entrevistar Suzy de Oliveira dos Santos e ambos constatarem que há mais de oito anos ela não recebia visitas, comovido, Drauzio a abraça e diz: “Solidão, né, minha filha?” (GLOBOPLAY, 2020b). O gesto repercute nas redes sociais digitais. Por compreender a potência acontecimental (HENN, 2013a) do caso foi necessário identificar quais os sentidos acionados a partir da repercussão da reportagem. Por isso, nossa abordagem metodológica utiliza a Análise de Construção de Sentidos em Redes Digitais (HENN, 2014). O corpus foi coletado na publicação original do perfil oficial do Fantástico, da Rede Globo, no Twitter, em 2 de março de 2020. O vídeo de 35 segundos apresenta o trecho exato em que Drauzio abraça e diz a frase à Suzy de Oliveira dos Santos, nos quais 2.035 comentários foram coletados via API do Twitter. Para identificar as singularidades e quais os elementos explicam a propulsão de sentidos, analisamos os 200
primeiros comentários de cada período da repercussão, nomeados de: Céu-2 a 7 de março de 2020; Purgatório-8 a 9 de março de 2020; Inferno-10 a 30 de março de 2020. Conforme a eclosão de sentidos, compreendemos como o ciberacontecimento (HENN, 2014), a partir a repercussão da reportagem, afetou o jornalismo. Observa-se ainda as interconexões entre discurso de ódio, pautas de gênero e as disputas oportunizadas em dinâmicas de redes sociais digitais. Além disso, a pesquisa conclui que os processos de desinformação e discussões partidárias, potencializadas pela pandemia do vírus SARS-CoV-2, causador de coronavírus (COVID-19) em 2020, ampliaram as dimensões desse episódio.