Resumo:
Dados históricos e projeções futuras indicam uma crescente no uso do concreto
no mundo, enquanto sua produção e a de demais compósitos cimentícios está ligada
a um grande consumo de insumos e de energia. A fissuração é uma manifestação
patológica constante nestes materiais, contribuindo para a deterioração das
edificações e causando diversos danos. Neste cenário, estudos buscam prover aos
materiais cimentícios a capacidade de autocicatrização de suas fissuras, havendo
uma vertente voltada ao uso de bactérias para este fim. É comum o encapsulamento
das bactérias para sua proteção frente à agressividade da matriz cimentícia, e
publicações recentes sugerem incorporar poros de ar à matriz para que sirvam como
proteção às bactérias. Dessa forma, este estudo busca avaliar distintas linhagens
bacterianas, coletadas na região metropolitana de Porto Alegre – RS, isoladas e
identificadas molecularmente, quanto ao seu potencial de formação de produtos de
cicatrização em uma argamassa com ar incorporado. Foi realizada microscopia óptica
para verificar a ocorrência de autocicatrização, além de microscopia eletrônica de
varredura (MEV) associada à espectroscopia de energia dispersiva de raios X (EDS)
para caracterização morfológica e elementar dos cristais, e difração de raios X (DRX)
para sua caracterização mineralógica. Foi verificada a influência das diferentes
linhagens na resistência à compressão da argamassa. As etapas de isolamento
realizadas resultaram na obtenção de 6 isolados distintos, caracterizados como
pertencentes aos gêneros Bacillus, Pseudomonas, Cronobacter e Citrobacter. Todos
os isolados proporcionaram um aumento na resistência à compressão comparado à
argamassa com ar incorporado e sem bactérias acrescentadas, com aumentos entre
10 e 108% aos 28 dias. Com relação à análise por microscopia óptica, 1 dos isolados
não apresentou formação de produtos de cicatrização, enquanto os demais
apresentaram cicatrização entre os 7 e 14 dias de análise, mas apenas nas regiões
inferiores dos corpos de prova, além de ter sido observada perda de parte dos cristais
formados. As análises de DRX e EDS indicam que os cristais se tratam de calcita,
sendo visualizado pela MEV calcita, mas também aragonita. Os resultados indicam
que todos os isolados foram capazes de promover a autocicatrização e que seu
encapsulamento em bolhas de ar incorporado foi efetivo.