Resumo:
Objetivos: Avaliar a prevalência de medicamentos psicoativos (psicoestimulantes, ansiolíticos e antidepressivos) e os seus fatores associados em uma amostra de acadêmicos da área da saúde de uma universidade do Centro-Oeste brasileiro. Metodologia: eEstudo transversal de base escolar (universitária), com uma amostra censitária de 2.295 universitários da área da saúde (Enfermagem, Fisioterapia, Farmácia, Educação Física, Odontologia e Medicina), de ambos os sexos, com idade igual ou superior a 18 anos, participantes de um projeto maior de pesquisa cujo objetivo foi avaliar as condições de saúde e fatores associados nessa população no ano de 2018. Os dados foram coletados em outubro de 2018 por uma equipe de pesquisa treinada, utilizando um questionário padronizado, pré-testado e autoaplicável, composto por perguntas fechadas e abertas que foram aplicados durante o período das aulas. Os dados foram referidos pelos participantes, incluindo variáveis demográficas, socioeconômicas, acadêmicas, comportamentais e saúde. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UNISINOS e da UniRV e todos os participantes assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). A tese foi dividida em dois estudos: no primeiro estudo, intitulado “Prevalência e fatores associados ao uso de medicamentos psicoestimulantes entre acadêmicos de uma universidade do Centro-Oeste brasileiro”, se objetivou estimar a prevalência do uso de medicamentos psicoestimulantes na vida, anterior e posterior ao ingresso na universidade e os fatores associados entre universitários do Centro-Oeste brasileiro. O segundo estudo, denominado “Uso de medicamentos ansiolíticos e antidepressivos entre acadêmicos da área da saúde: prevalência e fatores relacionados ao ingresso na universidade” se objetivou caracterizar o uso de medicamentos ansiolíticos e antidepressivos entre estudantes universitários da área da saúde e analisar as características sociodemográficas, acadêmicas, comportamentais e de saúde associadas ao uso na vida e posterior ao ingresso na universidade. Ambos os estudos foram estratificados por sexo e utilizadas análises de regressão multivariável por Regressão de Poisson com o uso dos medicamentos (psicoestimulantes, ansiolíticos e antidepressivos) na vida e posterior ao ingresso na universidade como variáveis dependentes. Cada variável foi ajustada às outras no mesmo nível ou mais distal com base em um modelo conceitual de causalidade. Resultados: no primeiro estudo observou-se uma prevalência de uso de medicamentos psicoestimulantes na vida e após o ingresso na universidade foram 38,1% (IC 95% 34,5 – 41,7) e 43,8% (IC95% 37,4 a 50,2) no sexo masculino, e 29,5% (IC 95% :27,2 – 31,7) e 48,2% (IC 95% 43,5 a
52,9) no sexo feminino, respectivamente. Após ajustes, maior probabilidade de uso na vida ocorreu para universitários cursando medicina, com maior idade de ingresso na universidade, que já consumiram drogas ilícitas na vida e que referiram diagnóstico médico de depressão. Para o sexo masculino, maior classe econômica, o tabagismo aumentou em 30% a probabilidade de uso. Entre as mulheres, não morar com a família, ter consultado um médico e reprovação acadêmica foram também determinantes do uso. Já no segundo estudo, maiores prevalências de uso na vida para os medicamentos investigados foram verificadas entre as acadêmicas (ansiolíticos 33,4% vs 20,5%; antidepressivos 28,1% vs 17,6%). Quase metade dos universitários que referiram uso na vida iniciaram o uso após o ingresso na universidade (ansiolíticos 43,6%, antidepressivos 49,0%). Após ajuste para fatores de confusão, maiores probabilidades de uso foram verificadas para participantes com diagnóstico de ansiedade e depressão. Ingresso tardio na universidade aumentou a probabilidade de uso de ansiolíticos na vida. A probabilidade de uso de antidepressivos aumentou com a idade, e para graduandos da medicina e tabagistas. Para o desfecho, o uso posterior à universidade observou-se associação linear direta com tempo de curso e inversa com idade de ingresso. Conclusões: verificou-se uma elevada prevalência de uso de psicofármacos em estudantes universitários do Centro-Oeste brasileiro. No primeiro estudo, observou-se maior proporção de uso para o sexo masculino e com início anterior e próximo ao ingresso na universidade. O início da vida acadêmica demonstrou ser fator determinante para o uso nessa população, principalmente para o uso indevido. Já o segundo estudo observou que entre os universitários que ingressam na universidade com uma idade menor foi observada uma menor probabilidade de uso de ansiolíticos e antidepressivos na vida, mas estes apresentam uma probabilidade maior de vir a usar esses medicamentos após o ingresso na universidade.