Resumo:
A pandemia de COVID-19 e o distanciamento social dela decorrente impactaram diretamente o trabalho do professor. Docentes de todo o mundo se viram diante da necessidade de ressignificar as suas práticas didáticas considerando o contexto de aulas remotas, sem a presença física do aluno e do professor na escola. Nesse sentido, o presente estudo procura analisar as representações de professoras de Língua Portuguesa a respeito do desenvolvimento de propostas envolvendo as práticas de linguagem previstas pela BNCC (BRASIL, 2018), especialmente a escrita, em contexto de ensino remoto emergencial ocasionado pela pandemia de COVID-19. A sustentação teórica utilizada nesta pesquisa se encontra, majoritariamente, nos estudos desenvolvidos dentro do quadro teórico metodológico do Interacionismo Sociodiscursivo (ISD) proposto por Bronckart (1999, 2006a, 2008) e colaboradores. Essa escolha permitiu a identificação e a análise do agir docente a partir de textos, uma vez que são nos e pelos textos que se constrói conhecimentos sobre o trabalho do professor. Além disso, este estudo se apoia, também, em recentes estudos referentes ao ensino de Língua Portuguesa em tempos de pandemia (CARVALHO; RIBEIRO, 2020; JUNQUEIRA, 2020), nos estudos acerca do ensino de escrita (DOLZ; GAGNON; DECÂNDIO, 2010) e no desenvolvimento de Projetos Didáticos de Gênero - PDG - (GUIMARÃES; KERSCH, 2012) como dispositivo didático pertinente tanto ao ensino de língua materna quanto à formação docente. Metodologicamente, esta é uma pesquisa de base qualitativo-interpretativista, centrada na análise de textos-discursos produzidos em situação de formação continuada de professoras de Língua Portuguesa. Na análise desenvolvida, valemo-nos de verbalizações produzidas por duas professoras participantes de um processo de formação continuada em comunidades de desenvolvimento profissional (GUIMARÃES; CARNIN, 2020), procurando identificar pistas linguístico-discursivas a respeito do ensino de língua portuguesa durante a pandemia de Covid-19. A análise empreendida é centralmente desenvolvida a partir do modelo da arquitetura textual (BRONCKART, 2008) e busca explicitar, além do contexto de produção, tipos de discurso e mecanismos de responsabilização enunciativa empregados pelas docentes ao representarem discursivamente o trabalho que desenvolveram ao longo do ano de 2020, quando do período de ensino remoto emergencial. Os resultados sugerem que o trabalho docente em tempos de
pandemia se tornou ainda mais desafiador, que a distância física imposta pelo distanciamento social dificulta o agir docente e o acompanhamento por parte do professor do desenvolvimento das atividades discentes. No que concerne ao ensino da escrita, observou-se a presença de diversas lacunas no que à construção de propostas de ensino que estejam em consonância com estudos recentes na área, com documentos oficiais e com os direitos de aprendizagem discente. Tais resultados apontam para a necessidade de seguirmos investindo na formação continuada de professores com o intuito de auxiliá-los na reconstrução das aprendizagens no pós-pandemia.