Resumo:
As funções da governança podem contribuir para um ambiente colaborativo em redes interorganizacionais. A identificação da presença desse ambiente é algo complexo, pois está associado a outros benefícios. A literatura tem contribuído para o entendimento desses dois fenômenos – funções da governança e ambiente colaborativo – de forma separada. Até o momento, foram identificados cinco resultados intermediários que caracterizam o ambiente colaborativo: confiança, legitimidade, poder, justiça e aprendizagem. Contudo as idiossincrasias estratégicas entre os participantes de redes interorganizacionais tornam a governança necessária para viabilizar um ambiente propício a colaboração nessas redes. Essa governança pode ser realizada por meio das seis funções da governança levantadas pela literatura: alinhar, arbitrar, organizar, mobilizar, integrar e monitorar. Nesse sentido, é necessário desenvolver pesquisas que associem essas funções ao ambiente colaborativo caracterizado por resultados intermediários. Esta pesquisa tem como foco preencher essa lacuna, analisando as possíveis configurações das funções da governança que produzam esse desejado ambiente colaborativo. Para tanto, foram pesquisadas trinta redes interorganizacionais, denominadas Comitês Estaduais de Bacias Hidrográficas (CBHs), instituídas pela Agência Nacional de Água (ANA) para o gerenciamento de recursos hídricos, localizadas em sete Estados de três regiões do Brasil. Essas redes se tornam relevantes por serem instituídas pelo poder público para gerenciamento de um bem comum e formadas por entes de três segmentos distintos: poder público, usuários e comunidades. Para preencher a citada lacuna, o método de pesquisa escolhido foi a Análise Qualitativa Comparativa (QCA). Os resultados evidenciaram quatro configurações das funções da governança que favorecem a presença de um ambiente colaborativo. Essas configurações demonstram que a partir da combinação da presença de algumas funções e a ausência de outras é possível se obter um ambiente colaborativo. Este estudo também apresenta contribuições teóricas por meio de práticas identificadas nos CBHs relacionadas às funções da governança que favorecem o ambiente colaborativo em redes voltadas para um bem comum. Essas práticas podem ser utilizadas pela liderança de outros CBHs com o objetivo de incentivar a colaboração. Adicionalmente, são indicadas recomendações para estudos futuros sobre a temática investigada.