Resumo:
A literatura científica descreve a anorexia como uma doença grave e complexa. Globalmente, a internet contém sites que propagam e estimulam o comportamento anoréxico. Esta dissertação é composta por dois estudos. O primeiro, teórico, abordou a dimensão narcísica da anorexia, de uma perspectiva psicanalítica, bem como o papel que o universo virtual pode desempenhar nesse contexto. O segundo estudo, empírico, teve como objetivo analisar manifestações e interações de participantes de uma comunidade virtual de pessoas que se identificam como anoréxicas, chamada ProAna. O delineamento teve caráter observacional e exploratório e o procedimento utilizado na pesquisa foi o de análise documental. A análise dos dados permitiu identificar os seguintes temas: i) características narcísicas e ambivalentes da relação com as mães; ii) o corpo como locus da expressão do conflito; iii) muleta emocional; iv) consciência da doença. Nos dois últimos temas pode-se identificar algumas categorias. No tema ‘muleta emocional’, observou-se que a anorexia é percebida como uma forma de lidar com as dificuldades e os problemas emocionais, possibilita uma sensação de controle e autoeficácia e traz alguns ganhos secundários. Já com relação ao tema ‘consciência da doença’, foram identificadas duas categorias: uma que enfatiza os aspectos negativos da anorexia, discordando da visão de que ela traga benefícios, e uma outra que evidencia uma tendência autodestrutiva e uma manifestação da pulsão de morte. O estudo permitiu identificar a forma como questões cruciais presentes na anorexia se manifestaram no fórum de discussão analisado. Salienta-se que a anorexia é um transtorno complexo que exige atendimento multiprofissional, sendo interessante que sejam articuladas pesquisas entre áreas da saúde que possam agregar seus conhecimentos como forma de reduzir os índices de morbidade e mortalidade dessa doença. A análise de uma comunidade virtual como a ProAna pode contribuir para a expansão do conhecimento sobre pessoas com anorexia, trazendo subsídios para a criação de políticas de saúde dirigidas para essa população.