Resumo:
A utilização de taxas fiscais de depreciação ainda se faz presente na contabilidade corporativa brasileira, embora transcorridos mais de dez anos da convergência da contabilidade aos padrões Internacional Financial Reporting Standards (IFRS). A pesquisa buscou compreender as práticas de implementação das IFRS no tratamento dos bens do ativo imobilizado, com ênfase na depreciação, no contexto brasileiro. Para coletar os dados, realizei entrevistas com 29 contadores, a partir de um guia semiestruturado, a fim de conhecer as principais práticas que estavam presentes no JDM destes profissionais nas tarefas executadas. Os dados foram tratados, codificados e alocados em temas, por meio da utilização da Análise Temática Reflexiva. A abordagem da pesquisa é qualitativa, exploratória, com codificação indutiva, e foi realizada sob o paradigma interpretativo. Com base na minha interpretação, partindo dos relatos dos contadores entrevistados, constatei três práticas de implementação das IFRS no tratamento dos bens do ativo imobilizado, no contexto investigado: deslocamento de tarefas para consultorias; simplificação de registros e controles contábeis; e utilização da interdisciplinaridade como alternativa na realização de tarefas. Adicionalmente, identifiquei algumas barreiras e desafios que os profissionais encontram quando implementam as normas, traduzindo-as em práticas dentro das organizações: o custo da geração das informações é alto; as normas são complexas e exigem conhecimentos específicos; existem problemas de comunicação entre setores internos das empresas; e os controles contábeis dos bens são inexistentes ou ineficazes. Os resultados foram discutidos a partir da abordagem de Heurísticas e de conceitos da Teoria Institucional, e permitiram observações adicionais: os contadores dependem tecnicamente de outros profissionais e perderam espaço de atuação; os custos altos dos serviços impossibilitam a realização das tarefas anualmente; laudos externos são atestados de conformidade, e por fim, observei que as normas tributárias ainda são amplamente aceitas para fins contábeis. A principal contribuição teórica do trabalho consiste na tese de que o contexto de baixa capacitação profissional e o custo elevado da geração de informações oportunizaram o uso de atalhos de julgamento, contribuindo para a ocorrência de isomorfismo e/ou decoupling relativos às práticas do ativo imobilizado e depreciação.