Resumo:
As práticas agrícolas podem remodelar o ambiente e afetar a possibilidade de sobrevivência dos organismos aquáticos. Em paisagens modificadas, muitas vezes, as lagoas artificiais usadas para a piscicultura constituem excelentes oportunidades de habitat para populações de anfíbios, contribuindo para a manutenção da diversidade local. Dados apontam para um papel predominante do habitat do entorno dessas lagoas e da qualidade da água para os anfíbios, sugerindo que as características do ambiente terrestre e aquáticas atuem como um filtro ambiental sobre esses animais. Assim, esses sistemas podem ser bons modelos de estudo para se avaliar as relações entre anfíbios e alterações antrópicas de seu habitat. A contaminação dessas lagoas também pode aumentar a pressão de doenças, onde os mecanismos subjacentes a esse padrão nem sempre são conhecidos. Por exemplo, lagoas artificiais que recebem enriquecimento de nutrientes devem influenciar fortemente na seleção de bactérias ambientais, que têm o potencial de alterar a composição do microbioma de animais aquáticos e sua vulnerabilidade a doenças. No entanto, essas mudanças no microbioma do hospedeiro associada às doenças dos organismos aquáticos têm recebido pouca atenção quando relacionada ao enriquecimento de nutrientes de origem animal. Nós analisamos como as alterações ambientais antrópicas na paisagem e na qualidade da água afetam a composição, diversidade e a saúde de anfíbios anuros em lagoas artificiais da região sul do Brasil. Amostramos um conjunto de lagoas artificiais com diferentes paisagens e níveis de contaminação do ponto de vista da diversidade de anuros bem como nos efeitos da qualidade da água na composição do microbioma da pele do hospedeiro e sua relação com quitridiomicose, ocasionada pelo fungo Batrachochytrium dendrobatidis (Bd). Nossos resultados indicam que esse sistema de cultivo integrado de peixes e suínos foi responsável por surtos de coliformes fecais, perturbando as comunidades bacterianas da pele dos anfíbios, de modo que os hospedeiros recrutaram proporções mais altas de bactérias facilitadoras do Bd e tiveram maior instensidade e prevalência da infecção. Nossas descobertas destacam também que apensar do risco a quitridiomicose estas lagoas artificiais podem atuar como importantes sítios reprodutivos para anuros, especialmente em habitats antropizados com baixa disponibilidade de locais para a reprodução. Mas a aptidão em oferecer oportunidades reprodutivas, e consequentemente, ajudar a manter populações de anuros, depende da configuração do habitat em que essas lagoas estão inseridas. Os parâmetros físico-químicos da água e a configuração do habitat de entorno das lagoas são os elementos que mais explicaram a variação 2 da diversidade de anuros. Todavia, a caracterização do ambiente do entorno teve papel predominante sobre as diferenças entre as comunidades. O nível de exposição do solo na área de entorno foi o componente que mais atuou sobre o componente de turnover da diversidade beta. Expomos aqui que o processo de turnover de espécies seja uma consequência da simplificação da paisagem causada pela remoção da cobertura vegetal original (florestas), culminando na homogeneização biótica. Dentre os parâmetros da água, apenas a concentração de fosfato se mostrou relevante para a configuração das comunidades. Picos de fosfato podem ser derivados da contaminação por esgoto ou fertilizantes. Ambos os tipos de contaminações são factíveis de ocorrer na área de estudo, ainda que ela se caracterize pela baixa densidade populacional humana e cuja atividade econômica seja baseada em agricultura de pequena escala (familiar). Apesar do enorme potencial das lagoas artificias na manutenção das comunidades de anuros regional estas podem estar atuando como armadilhas ecológicas e sua efetividade dependerá da presença de remanescentes florestais bem como da qualidade da água.