Resumo:
A pandemia da COVID-19, devido às condições de distanciamento social, levou a uma reconfiguração da forma de trabalho (de presencial para teletrabalho) de alguns grupos sociais brasileiros. A partir do aparato teórico-metodológico da Análise da Conversa Multimodal de base Etnometodológica, foram analisadas interações de dois grupos familiares distintos para compreender como têm sido (co)construídas as interações sociais da vida doméstica e da vida institucional em uma mesma configuração espacial (i.e., residências) durante o período pandêmico. A configuração espacial das residências foi afetada pela pandemia ocasionada pela COVID-19 e passou a contar com dois domínios distintos. O primeiro, com objetos que representam a vida institucional (e.g., tela do computador, celular, escrivaninha, mesa de jantar); e o segundo, que possui objetos relativos à vida doméstica (e.g., sofá, televisão, cozinha, banheiro). Os domínios, no entanto, não são somente físicos, mas também virtuais. Além disso, os/as interagentes transitam entre um domínio e outro através de um gatilho/convite, seguido do aceite ou da recusa do convite ao novo contexto interacional. A expansão ou retração dos domínios é dependente da temporalidade e do resultado das ações e decisões dos/as interagentes. Observou-se a existência de uma assimetria quando há expansão do domínio da vida institucional sobre o domínio da vida doméstica. As pessoas possuem agentividade para impor limites às expansões e retrações dos domínios. No entanto, a agentividade é limitada pelos proxies institucionais.