Resumo:
Essa tese analisa experiências vivenciadas por pessoas com deficiência intelectual no acesso à Rede de Atenção à Saúde e as respostas dadas pelos serviços, frente às necessidades demandadas por esse público. Metodologia: Tratou-se de uma pesquisa qualitativa de observação participante que analisou as narrativas de doze pessoas neurodiversas, seis com deficiência intelectual leve, autorresponsáveis e seis pessoas com deficiência intelectual moderada, grave ou profunda que, devido ao grau de comprometimento intelectual e físico, foram representadas na pesquisa por suas responsáveis legais, sendo essas, cinco mães e uma avó. A produção dos dados ocorreu em duas etapas: a primeira, realizada entre 2019 e 2010, com a leitura dos prontuários existentes na instituição prestadora de serviços de reabilitação intelectual, na modalidade única, pelo Sistema Único de Saúde, a fim de identificar os possíveis participantes para a pesquisa. A segunda etapa ocorreu entre 2010 e 2021, anos destinados a realização das entrevistas e acompanhamento dos participantes nos itinerários terapêuticos. A análise dos dados ocorreu após a transcrição dos áudios, leituras e releituras das entrevistas e das anotações realizadas no diário de campo, e assim, foram classificados eixos e subeixos para discussão com a literatura. Resultados e Discussões: No primeiro artigo, foram analisadas as experiências vivenciadas por pessoas com deficiência intelectual durante o acesso aos serviços de saúde, enfatizando o estigma social e o descuidado potencializadores da violência estrutural e institucional em que são submetidos nesse contexto. Os itinerários realizados por essas pessoas levaram aos dados do segundo artigo onde foram analisadas as trajetórias de mães de crianças com deficiência intelectual moderada, grave e profunda, concomitante a epilepsia refratária, na busca pelo acesso às medicações extraídas da Cannabis Sativa L, enfatizando a formação de redes de solidariedade, tendo como foco analítico o ativismo dessas mulheres no acesso ao óleo extraído da maconha, bem como a legalização do autocultivo. Considerações finais: Diante os resultados, considera-se que o acesso às Rede de Atenção à Saúde por pessoas com deficiência intelectual é permeado por iniquidades, desde a primeira consulta de avaliação da deficiência intelectual, à estigmatização no atendimento, provocando desacolhimento e descuidado bem como desigualdades na busca do acesso aos serviços de saúde. Considera-se imperativo ampliar o olhar sobre os processos de estigmatização e violência institucional sofridos por esse público com a finalidade de reduzir as iniquidades de acesso aos cuidados em saúde.