Resumo:
As doenças cardiovasculares (DCVs) constituem a maior causa de morte por doenças crônicas não transmissíveis, sendo responsáveis por cerca de 17,2 milhões de mortes no mundo em 2012. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que este número pode chegar em 23,3 milhões no ano de 2030. Entre os principais fatores de risco para DCVs estão aspectos comportamentais como o hábito de fumar, inatividade física e alimentação inadequada, além de aspectos clínicos como o excesso de peso, a hipertensão arterial e a dislipidemia.Além de tais fatores, tem sido sugerido que aspectos psicossociais podem exercer um papel importante direta ou indiretamente no desenvolvimento das DCVs. O objetivo do presente estudo foi avaliar a influência dos aspectos psicossociais no autorrelato de DCVs. As hipóteses eram de que os aspectos psicossociais possuem influência direta nos comportamentos de saúde, nos fatores de risco para doenças cardiovasculares (FRDCV) e na DCV. Tais aspectos também possuiriam um efeito indireto nas DCVs que é mediado pelos comportamentos relacionados à saúde.Para tanto, foi realizado um estudo transversal de base populacional, com uma amostra representativa de adultos residentes na zona urbana um município de médio porte do estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Foram coletados dados através de entrevistas estruturadas realizadas nos domicílios utilizando-se um questionário padronizado e pré-testado composto por variáveis demográficas, socioeconômicas, comportamentais, psicossociais e relacionadas à saúde. A coleta de dados ocorreu em 2006 e resultou em um total de 1100 indivíduos em 36 setores censitários. Uma variável latente foi criada para os aspectos psicossociais os quais incluíram escalas de: resiliência, qualidade de vida, senso de coerência e apoio social. Os desfechos eram as DCVs e os FRDCV mensurados por itens unitários inquirindo os participantes se algum médico havia dito que eles possuíam: doenças do coração, pressão alta e colesterol/triglicerídeos elevados, bem como excesso de peso referido (IMC≥25 Kg/m²).A análise dos dados foi realizada no programa Stata12 e utilizou-se de modelos de equações estruturais. O modelo final apresentou um bom ajustamento em todos os índices: (χ²[57]=155, p=<0,001; RMSEA=0,042; CFI=0,902 e SRMR=0,042).Consistente com nossa hipótese do efeito direto, aspectos psicossociais favoráveis estavam inversamente associados com risco para DCVs (β=-0,15; p=0,011) e com DCVs (β=-0,10; p=0,048).O efeito indireto via comportamentos de saúde não foi confirmado. Os achados sugerem que os aspectos psicossociais podem influenciar a presença de DCVs ou seus fatores de risco.