Resumo:
A Floresta Ombrófila Mista ou Floresta de Araucária faz parte do bioma Mata Atlântica e se distribui pela parte sul do Brasil. Originalmente ocupava uma área de 25.379.316 ha, onde hoje restam menos 12,6% de sua formação original distribuídos em pequenos e isolados fragmentos, onde a maior parte não passa de 50 ha. A perda da cobertura vegetal ocorreu inicialmente pela extração e comercialização da madeira, posteriormente, por atividades como a agricultura, pecuária e silvicultura. A atividade de silvicultura e o corte seletivo foram práticas intensamente exploradas no sul do Brasil, resultando na substituição, fragmentação e isolamento das áreas naturais, levando a redução e perda da diversidade de aves. Assim, esta dissertação teve como objetivo caracterizar a comunidade de aves de interior florestal em ambientes de Floresta Ombrófila Mista com corte seletivo e em áreas com atividade de silvicultura com espécie exótica (Pinus sp.) e com espécie nativa (Araucaria angustifolia). No primeiro capítulo foram realizados levantamentos sazonais da riqueza e da abundância de espécies por meio de pontos de escuta com raio ilimitado no interior de três Unidades de Conservação caracterizadas por Floresta Ombrófila Mista e que sofreram em diferentes graus com o corte seletivo: Floresta Nacional de Três Barras (corte seletivo anterior a 40 anos), Floresta Nacional de Irati (sem corte seletivo) e Reserva Florestal Pizzatto (corte seletivo recente). Para determinar a sensibilidade de cada espécie nas Unidades de Conservação, foi utilizada a técnica de “Rank Occupancy Abudance Profiles” (ROAP). Quanto a riqueza de espécies, não foi registrada diferença significativa entre as Unidades de Conservação (F1,33= 1,805, p= 0,180), porém, a composição de espécies foi distinta (F= 5, 286, p > 0,0001). Quanto ao grau de sensibilidade, FI apresentou um maior número de espécies sensível 65% (n=61), seguido da RFP com 60% (n=58) e FTB, com 53% (n=45) espécies sensíveis. Através da análise de Cluster, que levou em consideração a sensibilidade e o habitat das espécies, demonstrou uma maior semelhança entre a FI e a RFP, quando comparadas a FTB, que apresentou composição distinta. Assim, diferentes intensidades de corte seletivo resultaram em composições de espécies distintas entre as Unidades de Conservação. Isso pode ter ocorrido, em função da degradação florestal provocada pelo corte seletivo, transformando habitats naturais, contínuos em áreas abertas e aumentando o tamanho das bordas, propiciando a ocupação de espéceis capazes de sobreviver neste ambiente, aumentando assim, a riqueza de espécies. As áreas estudadas, mesmo apresentando corte seletivo, são capazes de manter um elevado número de espécies sensíveis, além de espécies ameaçadas de extinção, sendo assim, são áreas importantes para a conservação devendo ser preservadas. Para responder ao segundo objetivo a mesma metodologia foi aplicada, porém as amostragens foram realizadas em três formações vegetais distintas: Floresta Ombrófila Mista com corte seletivo eplantação da espécie nativa Araucaria angustifolia e de exótica Pinus sp., localizadas na Floresta Nacional de Três Barras, Santa Catarina. Não foram registradas diferenças significativas na riqueza entre as três formações florestais (F2,33= 3,05, p= 0,6), no entanto, a composição de espécies foi distinta (F= 4,814, p > 0,0001). Insetívoros e espécies dependentes do interior florestal foram mais frequentes na floresta nativa com corte seletivo, e espécies granívoras e floresta generalistas apresentaram uma maior relação com a plantação de espécies exóticas. Esta diferença na composição das espécies é explicada pela maior heterogeneidade do habitat que áreas de floresta nativa apresentam, aumentando a disponibilidade de recurso para as aves, sendo que áreas de plantações tendem a ser mais homogêneas e escassas em recursos. Já a semelhança na riqueza de espécies observada entre a floresta nativa e as áreas de plantações possivelmente ocorreram devido aos danos causados pelo corte seletivo e a fragmentação sobre a floresta nativa, resultando em um reduzido número de espécies registradas. Além das diferentes técnicas de manejo e a idade avançada que as plantações apresentam, possibilitando o desenvolvimento de estratos em meio às plantações, aumentando a disponibilidade de recursos, resultando em um maior número de espécies. Assim, conclui-se que plantações, principalmente de espécies arbóreas nativas, são capazes de comportar uma avifauna associada a formações florestais nativas, porém, áreas de floresta naturais são insubstituíveis, pois comportam uma avifauna com hábitos mais especialistas devendo ser conservadas.